O Brasil já foi mundialmente reconhecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), assim como pela eficiência de vacinação e atendimento a grupos massivos de doentes. Assim, internacionalmente, pensou-se que o país fosse capaz de lidar bem com a pandemia, como apontou um artigo da revista científica The Lancet em março de 2020. No entanto, devido à politização da crise sanitária que vem assolando o mundo e uma gestão de governo caótica, o Brasil foi fortemente desmoralizado no cenário internacional e se tornou um dos países com maiores taxas de mortalidade pela COVID-19.
Na palestra “Política, Ciência e Negacionismo”, promovida pelo Diretório Acadêmico da FGV, em parceria com a Gazeta Vargas e a EPEP-FGV (Estudos de Política em Pauta), a professora de Administração Pública Gabriela Lotta abordou os principais pilares da gestão de governo atual: descoordenação, ambiguidade e conflito. A pesquisadora comentou a confusão com relação a medidas, normas, ações ineficazes e discordantes entre si e a polarização e agressividade em uma sociedade já fragilizada. Essa forma de uso do poder já foi utilizada em diversos cenários a fim de dispersar a atenção popular para outras questões que não as medidas públicas. Podemos usar como exemplos as falas do presidente Jair Bolsonaro acerca da pandemia, como comparar o coronavírus a uma “gripezinha” — logo no mês de março — ou “E daí, lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre”, quando perguntado sobre as mortes pela doença.
Em meio ao posicionamento do governo federal, em um único mês o país chegou a ter três ministros da Saúde. A população brasileira corresponde a aproximadamente 2,7% da população mundial; já os mortos por COVID-19 no Brasil, 12,15% do número de óbitos mundiais. Houve uma incessante indicação de tratamentos com remédios sem comprovação científica contra a doença, que, em alguns casos, trouxeram outros problemas para os usuários. A vacinação, que em 2010 atingiu níveis recordes contra a H1N1 ao imunizar mais de 88 milhões de pessoas em apenas três meses, demorou meses para ser iniciada na pandemia do coronavírus, em função do direcionamento da verba da Saúde para métodos não comprovados e da falta de interesse na compra de insumos. Assim, foram sendo traçados danos irreparáveis.
O cenário, especificamente para os profissionais da saúde, foi de muita tensão. No mês de março, receberam aplausos da população nas janelas. Alguns meses depois, vários deles sofreram agressões morais e físicas, fundamentadas no negacionismo e na intolerância. Um governo que influenciou o pensamento de que as medidas protetivas tomadas por outros países na pandemia eram "frescura" ou atitudes de um grupo político de esquerda e comprometeu a integridade física dos burocratas de nível de rua — o conjunto de agentes responsáveis pela entrega direta de serviços públicos aos cidadãos.
Sociólogo do século XIX, Émile Durkheim traz em suas obras uma análise de como a modernidade vem acompanhada de um risco de anomia, da falta de normas. O psicanalista Sigmund Freud, por sua vez, analisa como o excesso de orientações pode causar danos psicológicos nos sujeitos. Assim, estabelecendo uma correlação das obras com a atualidade, podemos concluir que, afinal, os grandes responsáveis pelo caos na pandemia e pela polarização, irracionalidade e negacionismo na sociedade brasileira são os agentes públicos que fizeram gestões desorganizadas, ambíguas e conflituosas. As atitudes propostas para a população têm sido discordantes entre si e têm gerado uma piora significativa na integridade da população do Brasil.
Autoria: Amanda Louro Sanchez
Revisão: Bruna Ballestero
Imagens de capa:
1. Gazeta do Povo
2. Confederação Nacional do Transporte - CNT
3. Repórter Brasil
4. O Globo
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Referências/Fontes
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