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A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA EM BLINK TWICE




Lançado em agosto deste ano, Blink Twice marca a estreia de Zoë Kravitz como diretora e já se estabelece como um dos melhores thrillers psicológicos de 2024, conduzindo o espectador por uma trama de camadas inesperadas, onde nada é exatamente o que parece. O filme acompanha Frida (Naomi Ackie), uma garçonete que aceita o convite do bilionário da tecnologia Slater King (Channing Tatum) para passar alguns dias em sua ilha particular. O que começa como uma experiência paradisíaca logo se torna sinistra, à medida que Frida percebe inconsistências nas suas memórias das noites passadas. A partir desse ponto, o filme usa a linguagem visual como um instrumento para amplificar a tensão, refletindo o estado psicológico da protagonista e convidando o público a questionar a realidade junto com ela.



A iluminação desempenha um papel central ao longo da narrativa, começando com tons quentes e acolhedores que reforçam a sensação de conforto e escapismo que a ilha parece oferecer. No entanto, conforme as verdades do local começam a se revelar, a paleta de cores se transforma em algo mais frio e sombrio. Todas as noites, pouca iluminação e sombras profundas criam uma atmosfera claustrofóbica, refletindo a crescente paranoia de Frida. Esse contraste entre luz e sombra não só constrói o suspense, mas também funciona como um simbolismo visual da luta entre aparência e realidade, um tema recorrente na história.



Além disso, os enquadramentos e movimentos de câmera são utilizados como forma de inserir o público na mente de Frida. Em momentos de incerteza, planos fechados em seu rosto capturam detalhes quase imperceptíveis, como hesitações ou suspiros contidos, que revelam a tensão crescente. Já em cenas em que sua percepção está distorcida, a câmera adota movimentos instáveis, envolvendo o espectador na confusão da protagonista. Por outro lado, os planos mais abertos destacam a grandiosidade da ilha e a sensação de que a personagem está sendo observada, presa em um jogo de poder invisível.



O cenário em si, representado pela arquitetura elegante e minimalista da ilha, reforça os temas centrais do filme. Espelhos e superfícies reflexivas estão presentes em diversos momentos, simbolizando tanto a introspecção quanto a duplicidade das situações que Frida enfrenta. Em uma das cenas mais marcantes, ela observa seu reflexo distorcido na superfície de uma piscina, um momento que não apenas enfatiza sua sensação de fragmentação, mas também sugere que há algo muito errado com suas percepções. Detalhes como padrões geométricos nos interiores, vários que remetem a olhos, reforçam o sentimento de vigilância constante, quase como se a ilha estivesse viva.



No conjunto, Blink Twice se destaca como uma obra que utiliza a linguagem cinematográfica de forma sensível e bem pensada para aprofundar a experiência narrativa. Através de uma iluminação cuidadosamente trabalhada, enquadramentos estratégicos e uma direção de arte carregada de simbolismos, o filme transforma a jornada de Frida em algo íntimo. O ato de piscar, algo tão simples, ganha camadas de significado - tornando-se um símbolo de dúvida, escolha e sobrevivência. É nesse equilíbrio entre a estética visual e a força emocional que o filme encontra sua potência.




Autoria e Arte: Nina Neves


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