Em mais uma parceria incrível, a Gazeta Vargas tem o orgulho de apresentar seu mais novo caderno de Entidades, em que as entidades estudantis da FGV se propõem a escrever artigos para nossa revista! Hoje, dois membros da Consultoria Júnior de Economia (CJE), Gabriela Scalon e Rafael Alves, nos deram o prazer de escreverem o primeiro texto para a estreia de nosso novo caderno!
No dia 23 de março de 2020, o Ibovespa atingiu seu menor nível no ano, com cerca de 63 mil pontos. Foi um dia marcado por circuit breakers e pânico no mercado. Desde então, o índice vem se recuperando e encontra-se, hoje, na casa dos 100 mil pontos, o que está relativamente próximo de sua máxima histórica, de cerca de 119 mil pontos. A economia real, por outro lado, não se recuperou tão facilmente, com o PIB caindo 9,7% no segundo trimestre e a taxa de desemprego atingindo 13,6% em setembro, segundo o IBGE. Esse comportamento pode ser observado por todo o mundo, com o S&P 500 – índice estadunidense que engloba as 500 maiores empresas de capital aberto do país, também chamado de SPX – tendo atingido a sua máxima histórica em plena pandemia. Tendo em vista esse panorama, é impossível olhar para a bolsa e para a economia real e não se perguntar porque a performance de ambas difere tanto.
No Brasil, a resposta para essa pergunta não se resume a uma causa específica, mas, sim, a um conjunto de fatores. Dentre eles, podemos citar o forte movimento de migração de pessoas físicas para a bolsa brasileira (Figura 1), que foi impulsionado pelos cortes na taxa de juros. Isso ocorre porque a redução da SELIC tende a reduzir a rentabilidade dos investimentos em renda fixa, fazendo com que os investidores busquem – na B3 – maiores retornos. O fato supracitado, somado ao otimismo com a reabertura econômica eminente, termina por impulsionar a demanda por ativos variáveis, o que tende a se refletir no preço das ações. As reaberturas de economias europeias e da China também auxiliam na explicação da recuperação da bolsa brasileira, uma vez que o nosso mercado reage aos estímulos externos. Por fim, vale ressaltar a alta correlação entre o S&P 500 e o Ibovespa, que reage consideravelmente às bolsas americanas, dada a alta presença de investidores estrangeiros, sobretudo estadunidenses, na B3, além de outros fatores que influenciam.
Figura 1
Nos Estados Unidos, um comportamento semelhante pode ser observado, apesar de suas causas não se assemelharem por completo. Em março, o índice S&P 500 despencou e, desde então, retomou vigorosamente, atingindo sua máxima histórica no dia 02 de setembro - em plena pandemia. Mas, como o mercado acionário pode estar tão forte frente a uma situação tão difícil? Para responder tal questão, faz-se essencial entendermos a composição de índices como o S&P 500 e, em seguida, a situação de seus componentes. Enquanto o desemprego segue alto, ele se encontra em indústrias que não possuem significância no SPX. Quase 4 milhões de empregos em hotéis e restaurantes deixaram de existir na primeira metade de 2020, mas esses dois setores combinados não compunham mais de 2% do índice no início do ano, possuindo ainda menor participação agora. Em contraste, destaca-se que a perda de empregos no setor de tecnologia da informação foi mínima, e o setor compõe cerca de 23% do índice. Dada a sua forte presença no SPX, bem como a aceleração de tendências de digitalização, uma parte significativa dos resultados do S&P 500 advém da performance das empresas de tecnologia que, por sinal, vêm tendo bom desempenho. Dessa maneira, conseguimos entender melhor porque índices de mercado podem apresentar fortes contrastes em relação à economia real.
Em conclusão, pode-se afirmar que o movimento atual de algumas bolsas pelo mundo – e o contraste do mesmo com o da economia real – pode ser explicado por diversos fatores. Além disso, o cenário atual requer muita atenção dos investidores em relação ao que está por vir. Segundo Claudia Yoshinaga, Coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV EAESP, “a bolsa pode subir, mas ela não persiste nesse nível, se as coisas aqui não ficarem boas”. Já em relação às altas expectativas de alguns investidores, o economista Rodrigo Lanna afirma que “é preciso ter muita cautela com tais projeções, pois os riscos ainda são bem elevados no país” e que “as incertezas ainda são muito grandes na saúde, na economia e na política”. Dessa forma, entende-se que investir, principalmente no momento atual, deve ser uma atividade apoiada por constantes pesquisas e análises do mercado, mas também da conjuntura macroeconômica como um todo.
Fontes: B3, S&P, IBGE e Nexo Jornal (https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/07/04/Como-a-covid-19-exp%C3%B5e-a-l%C3%B3gica-de-neg%C3%B3cios-da-bolsa-de-valores).
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