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CADÊ A IGUALDADE NO ECONO?

Dia 8 de março é celebrado o Dia Internacional da Mulher, uma data para honrar as conquistas das mulheres e lutar pelos direitos que ainda não foram conquistados. 


No dia 8 de março de 2025 ocorreu uma reunião sobre o regulamento específico do Economíadas, jogos universitários que ocorrem desde 1991 e que reúnem atletas de diversas faculdades de São Paulo, como FGV, ESPM, Econo Mackenzie, FEA USP, FECAP, FEA PUC, Insper, entre outras convidadas. Entre os tópicos da reunião, houve uma votação para decidir se as seguintes provas de natação deixariam de ser demonstrativas (sem valer-se de pontuação): 100 metros medley feminino e revezamento 4x50 metros livre misto. Ambas as votações tiveram resultado negativo.


Inicialmente, é importante entender o porquê dessas modalidades serem demonstrativas nos jogos. Até 2019, elas não existiam, e o regulamento prevê que toda modalidade nova deve passar por três anos de demonstrativo para que as atléticas tenham tempo de reunir um time. Depois desse período, deve ocorrer uma votação para aprovar a oficialização de tal modalidade, ou seja, tornando-a válida para pontuação na contagem geral da competição. O quórum necessário para aprovação deve ser de maioria qualificada das Atléticas Organizadoras aptas a votar, ou seja, dentre as sete entidades votantes, cinco devem votar a favor para que a pauta seja aprovada.


Por conta da pandemia, a modalidade demorou para ter seus três anos de demonstrativo e, em 2024, ocorreu a primeira votação. Nenhuma das modalidades foi aprovada. Essa foi o resultado final na época:


Referente ao 100 medley feminino:

  • Econo Mackenzie - CONTRA

  • ESPM - A FAVOR

  • FGV - A FAVOR

  • FECAP - A FAVOR

  • FEA PUC - CONTRA

  • INSPER - CONTRA


Referente ao revezamento 4x50 livre misto:

  • Econo Mackenzie - CONTRA

  • ESPM - CONTRA

  • FGV - A FAVOR

  • FECAP - A FAVOR

  • FEA PUC - CONTRA

  • INSPER - CONTRA


Em 2025, a pauta foi votada novamente e, apesar de protestos das atletas, nenhuma das modalidades conseguiu obter um caráter oficial. Significativamente, a votação ocorreu no dia 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, e, ao invés de celebrar uma conquista, o direito das atletas do Economíadas foi negado mais uma vez. Essa foi o resultado neste ano:


Referente ao 100 medley feminino:

  • Econo Mackenzie - CONTRA

  • ESPM - A FAVOR

  • FGV - A FAVOR

  • FECAP - CONTRA (mudança de voto)

  • FEA USP - A FAVOR

  • FEA PUC - CONTRA

  • INSPER - A FAVOR (mudança de voto)


Referente ao revezamento 4x50 livre misto:

  • Econo Mackenzie - CONTRA

  • ESPM - CONTRA

  • FGV - A FAVOR

  • FECAP - A FAVOR

  • FEA USP - A FAVOR

  • FEA PUC - CONTRA

  • INSPER - A FAVOR (mudança de voto)


A mudança de voto do INSPER demonstra um avanço por parte de algumas faculdades na promoção da igualdade de gênero no esporte universitário. No ano passado, votaram contra a aprovação de ambas as provas e, depois de reclamações de suas atletas que desejavam disputá-las, a nova gestão decidiu votar de maneira ética e respeitar as mulheres no esporte. Em uma publicação do Instagram @natafgv, publicado em 2024 sobre a injustiça que ocorreu na votação daquele ano, o técnico da equipe de natação do INSPER comentou: “Isso não representa a vontade e o pedido do treinador e atletas da Raposa.”

Comentário do técnico do time de natação do INSPER no post da @natafgv de 2024
Comentário do técnico do time de natação do INSPER no post da @natafgv de 2024

Já a mudança de voto da FECAP representa um retrocesso por parte da nova gestão. Em 2024, votaram a favor da mudança e em 2025, no Dia da Mulher, decidiram votar contra. Fica claro que seu posicionamento é fundado em estratégias para benefícios da atlética, não no que é certo ou errado. Em homenagem ao dia 8 de março, a atlética fez uma postagem, mas suas palavras são incoerentes com suas ações. Não é possível celebrar as conquistas femininas, pois a FECAP votou contra elas.

Post realizado pela atlética da FECAP no dia 8 de março de 2025, Dia da Mulher
Post realizado pela atlética da FECAP no dia 8 de março de 2025, Dia da Mulher
Legenda do post: a importância de celebrar conquistas femininas
Legenda do post: a importância de celebrar conquistas femininas












O que vale mais: respeitar suas atletas ou ficar com uma maior pontuação dentro de um esporte específico?


As atletas de natação da FEA PUC também discordam do posicionamento de sua atlética. O time feminino tem crescido nos últimos anos e, segundo as próprias nadadoras, seria benéfico que essa prova passasse a valer pontuação. Mesmo assim, a atlética optou por votar contra, ignorando o pedido das mulheres do time, perpetuando a desigualdade de gênero no esporte universitário. 


Já é 2025 e 100 Medley Feminino ainda NÃO PONTUA nas Economíadas, enquanto a prova masculina, sim. Isso é justo? Não é justo que só o esforço dos atletas masculinos seja recompensado. Mulheres também conseguem nadar a prova com igual destreza. O NDU, competição de natação universitária da qual as faculdades acima também participam, conta com essa prova, que tem o mesmo peso de qualquer outra. O argumento de que a votação se pauta no quórum baixo de mulheres na equipe também não se sustenta, uma vez que a existência dessa prova vem sendo discutida desde 2019 – 6 anos depois, já houve tempo suficiente para que essas equipes fossem fortalecidas.


A oficialização do 100 medley feminino não é apenas uma questão esportiva, mas também de igualdade. 

Foto de 20 de junho de 2019, as manifestações a favor do 100 medley feminino já tinham começado
Foto de 20 de junho de 2019, as manifestações a favor do 100 medley feminino já tinham começado

Já é 2025 e o Revezamento 4x50 Misto ainda NÃO PONTUA nas Economíadas. Isso é justo? Mulheres e homens nadando juntos na mesma equipe não podem pontuar. Essa prova fortalece a integração entre os gêneros no esporte, considerando suas diferenças. Apesar de ser uma modalidade mista, tem igual validade na luta das mulheres, sendo uma questão de equidade. É exigido que dois homens e duas mulheres nadem na prova, de modo que deve haver uma estratégia na escolha da ordem dos nadadores e nadadoras, já que as diferenças biológicas entre os gêneros impactam o ritmo da prova. Equipes precisam decidir a melhor tática para maximizar seu desempenho, pois ambos os gêneros terão impacto no resultado final: feminino e masculino. Votações divergentes enfatizam a não confiança das atléticas no potencial das suas atletas mulheres – um medo do desempenho delas não ser “suficiente” e “atrapalhar” os seus atletas homens.


A votação não deve ser pautada em estratégias de pontuação, mas sim nos princípios éticos e morais que as atléticas gostariam de representar. A não pontuação do 100 medley feminino e do revezamento 4x50 livre misto é uma forma de perpetuação do machismo. Machismo é crime. É vergonhoso que, ano após ano, as atléticas continuem reforçando essa desigualdade de gênero.


A votação de 2025 já foi finalizada e não existe possibilidade de mudança de votos, mas é inaceitável que mais um ano passe em que as nadadoras sejam cerceadas de seu direito de ser tratadas de maneira igual. Essa injustiça não deve sair impune.


Post de 2024 da @narafgv
Post de 2024 da @narafgv
Post de 2025 da @narafgv (divulgado no dia da votação)
Post de 2025 da @narafgv (divulgado no dia da votação)

Autoria: Elis Suzuki

Revisão: André Rhinow e Giovana Rodrigues

Imagem de capa: Montagem da autora

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