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COPA NO CATAR - UMA VERGONHA PARA O ESPORTE



A Copa do Mundo de Futebol Masculino de 2022 terá como país sede o Catar. Eleita — ou vendida — pela FIFA, a decisão envergonha quem acredita no esporte como ferramenta de união, inclusão social, igualdade e respeito e afirma-o muito mais como símbolo da comercialização e da submissão do esporte ao lucro. O Catar é uma ditadura no modelo de monarquia absolutista, com constantes violações aos direitos humanos e que construiu a estrutura da Copa sob o sangue de seus trabalhadores. Como, então, unir nações e povos em torno de um evento tão simbólico quando ele acontece em um país despótico e autoritário que contraria os princípios do esporte?


Tendo papel fundamental na formação de crianças e adolescentes, o esporte é regido pelas máximas da inclusão, da amizade, da solidariedade, do combate à discriminação, da educação e da integração cultural[1]. Esses valores ultrapassam a prática esportiva ao demonstrar princípios que são fundamentais para a vida em sociedade. Em contraste, o Catar criminaliza ser LBGT sob pena que pode chegar a uma sentença de morte, sendo um dos países mais perigosos para essa minoria viver[2] . Um país em que legaliza e escancara a intolerância e que viola os direitos humanos dessa forma não é compatível com o esporte.



Ademais, como refletir esses mesmos princípios em uma nação que vive sob um regime ditatorial, que também é a mais desigual do mundo e que tem a quinta maior concentração de trabalho escravo mundial? O Catar contém mais de 75% da sua população composta por imigrantes, os quais vivem escondidos nas favelas, às sombras das construções faraônicas nas quais trabalharam e morreram. Com 6,5 mil mortes (com chances de subnotificação) nas obras da Copa do Mundo, o Estado catariano foi condenado pela Anistia Internacional por violações aos direitos humanos e vive uma investigação da OIT (Organização Internacional do Trabalho) sobre a temática.


Jogadores e outras seleções manifestaram-se nesse sentido, revelando seu medo de ir ao Catar, como foi o caso do australiano Josh Cavallo, que é assumidamente gay, e das seleções dinamarquesa e norueguesa, que farão boicote comercial ao evento. Grande parte dos outros países, contudo, não demonstrou indignação com relação à escolha e está pronta para levar seus turistas e seus representantes para passarem férias em um local repleto de sangue nas ruas. Infelizmente, a FIFA curvou-se aos bilhões do Catar ao entregar o segundo maior evento esportivo do planeta a poucos aristocratas e sinaliza que pouco se importa com pautas democráticas, plurais ou relativas à tolerância.



O Futebol parou guerras, em momentos como o da famosa partida de véspera de Natal entre alemães e ingleses durante a trégua da Primeira Guerra Mundial em 1914; para ver Pelé jogar na Nigéria em 1969 ou na missão de paz do Haiti, promovida pela seleção brasileira, com um amistoso que deu início à campanha de desarmamento no país. No Brasil, houve resistência à ditadura com movimentos como a Democracia Corinthiana, Resistência Tricolor. No Chile, torcidas organizadas participaram dos protestos para a nova constituinte. O Futebol, assim como o esporte como um todo, teve e tem papel fundamental na união dos povos e na luta contra a discriminação, intolerância e em prol da democracia e não merece ter seu maior evento vendido a um país que o desrespeita tal qual desrespeita os direitos humanos.


A Copa do Mundo do Catar de 2022 é uma vergonha lastimável ao Futebol e não merece acontecer.



Autoria: Miguel Guethi

Revisão: Beatriz Nassar

Imagem de capa: Agência Brasil - EBC




Notas de Rodapé:

1- cob.org.br/pt/cob/movimento-olimpico/o-olimpismo




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