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E QUEM TÁ BEM, AFINAL?





Calma: isso não é mais um texto sobre BBB. Ou pode ser, mais ou menos. Mas, não vim aqui para debater a postura dos brothers relacionando-as à tribos e movimentos sociais, não vim aqui falar de cancelamento, não vim aqui falar de destruição de carreiras artísticas através da desconstrução da idolatria e não vim aqui falar sobre o que se passa na cabeça do diretor de televisão José Bonifácio Brasil de Oliveira, também conhecido como Boninho. Vim aqui falar sobre como somos uma geração que fagocitou e aceitou - se é que se pode falar em uma escolha - a degradação da saúde mental em massa dos nossos círculos sociais.


Tudo começou quando estava na casa de amigos - sim, na casa de amigos íntimos, igualmente quarentenados, seguindo todos os protocolos - insira aqui qualquer outro comentário saturado de mea culpa - e vimos a seguinte cena acontecer: o participante Lucas Penteado chorava compulsivamente após um conflito na casa, falando que precisava sair do programa e elaborando cenários pessimistas repetidamente sobre o seu futuro. Um amigo, casualmente, disse:


  • Meu deus, gente. Ele tá visivelmente tendo uma crise de ansiedade e não tem um p*to naquela casa pra ignorar o jogo dele por quinze minutos e fazer o que se deve fazer com uma pessoa tendo uma crise de ansiedade.


Na hora, pensei por alguns segundos sobre a primeira vez que me foi delegada a tarefa de tentar ajudar alguém tendo um momento agudo de ansiedade. Foi em um bar, com amigos, em meados de 2017, meu primeiro ano de faculdade e morando em São Paulo. Depois disso, no final de 2018, foi a minha vez de ser ajudada. Em 2019, os casos se tornaram cada vez mais frequentes na minha bolha. E, a partir de 2020, são pouquíssimos os conhecidos mais próximos que não tiveram ao menos um momento de angústia, ansiedade ou até pânico profundo que demandava ajuda externa.


A pergunta é: você sabe o que fazer com uma pessoa que está passando por algo desse tipo? Se a resposta é não, eu sinto em lhe dizer que, nos próximos anos, a chance de você se encontrar em uma situação em que alguém perto de você está precisando de ajuda é alta.



Sem pretensão alguma de traçar aqui uma análise científica e acurada sobre os rumos da saúde mental do brasileiro médio no futuro próximo, vejo que os jovens do meu círculo social (e, quem sabe, do seu?) estão aprendendo à força como lidar com as oscilações e diferenças referentes à saúde mental dos que estão à sua volta - mais do que nunca. Arrisco dizer que a geração dos nossos pais ouvia e lidava muito menos com tais questões, e não necessariamente porque as pessoas estavam melhor.


A escritora Tati Bernardi narra em um episódio de podcast uma situação em que decidiu não entrar em um avião, viajando com amigas, por se sentir ansiosa e prestes a ter uma crise de pânico. As amigas, no caso, não só não a entenderam, fazendo-a inventar uma desculpa qualquer, devido à vergonha de expor mais seus sentimentos, como a fizeram pagar por todos os gastos já despendidos com hospedagem na viagem. A própria escritora afirma que a incompreensão de suas amigas a marcou muito mais do que qualquer cobrança de dinheiro (a qual, inclusive, não achou tão injusta). Como você acha que seus amigos reagiram hoje? Como você reagiria? Não coloco tais questionamentos como normativos ou uma lição de moral, inclusive tenho sérias dúvidas sobre como eu mesma reagiria estando no lugar das amigas de Tati. Tenho sérias dúvidas quanto à minha reação se estivesse com Lucas, na "casa mais vigiada do Brasil", como também tenho dúvidas sobre a minha conduta em diversas situações na vida cotidiana que dizem respeito à saúde mental alheia.


E o que fazer? Bem, se você, leitor que chegou ao final deste texto, permite-me, vou destilar um pouco mais de minhas impressões baseadas em minha bolha/meu umbigo/meu local de fala para uma sugestão de primeiro passo para tentar nos adaptar melhor a este turbilhão de novas informações e protocolos de vivência pacífica entre mentes diversas e agitadas. E, acho que este primeiro importante passo é emitir menos opiniões. Sim. Ou, se isso soa radical demais, multiplicar por três o tempo que demoramos em média para emitir uma opinião, que tal? Se isso soa estranho, tente resgatar alguma situação em que você disse algo e se sentiu tolo logo em seguida, por ter emitido uma opinião sem saber de todos os fatos que te interessam no assunto. Eu posso começar: há algumas semanas, destilei meu ódio em uma conversa de bar sobre a postura de certo participante de um reality show que atazanava os outros participantes enquanto estava bêbado. Queria que os demais participantes reagissem e dessem um sacode nele, tal qual como tinham feito outros participantes da edição anterior do programa, em uma situação “similar”. Meus amigos concordaram comigo. E o resto é história.




Revisão: Cedric Antunes e João Vitor Vedrano

Imagem de capa: Reprodução TV Globo


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