EM COMPETIÇÃO UNIVERSITÁRIA, ALUNOS DE MEDICINA DA FASM FAZEM APOLOGIA À VIOLÊNCIA SEXUAL
- Arthur Quinello
- 24 de mar.
- 3 min de leitura

*Esta reportagem trata de temas sensíveis e pode despertar gatilhos ligados à violência sexual
No último sábado, dia 15 de março, alunos da Faculdade Santa Marcelina participaram do Intercalo – competição entre os calouros de Medicina – durante a qual os atletas de handebol exibiram uma bandeira e entoaram um hino com diversas referências ao estupro e outras violências sexuais. A Gazeta Vargas teve acesso exclusivo ao documento de repúdio elaborado por estudantes da faculdade.
Os 24 alunos, que posaram para fotos segurando uma bandeira com os escritos “Entra porra escorre sangue” [sic] foram identificados como calouros e membros veteranos da atlética da faculdade. Ainda, testemunhas alegam que os estudantes entoaram um hino ofensivo, que também faz diversas apologias à violências sexuais, que já foi proibido na faculdade.
Em resposta, diversos estudantes da instituição se manifestaram em repúdio ao ocorrido. Em especial, o coletivo feminista, também responsável pela moção de proibir o hino em questão no passado, promoveu mais uma ação contra o ocorrido, exigindo da coordenação e da diretoria da faculdade apuração dos fatos e a devida punição aos responsáveis.

Ocorrências como essa não são novidade em eventos universitários. Em 2014, repercutiu uma ilustração postada por alunos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que mostra uma mulher praticando sexo oral forçado, convidando sua delegação para participarem dos Jogos Juridicos do estado naquele ano. A imagem revoltou muitas pessoas e, na época, impulsionou debates para o que é chamado de “machismo recreativo” ou “com ares de brincadeira” como apontado pela matéria do jornal O Globo. [1]
Mais recentemente, em Outubro de 2024, por exemplo, alunos de Direito da Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) foram acusados e penalizados por falas racistas e aporofóbicas durante os jogos universitários conhecidos como Jurídicos. No mesmo ano, nas Economíadas, competição universitária da qual a FGV participa, falas xenofóbicas por parte de estudantes do Insper contra um atleta da Fundação também foram levadas a julgamento pelas atléticas organizadoras.
No caso da FASM, no documento de repúdio, estudantes lembram da Lei Estadual nº 18.013/2024 que, em seus autos, veta práticas de trote universitário que “envolvam coação, agressão, humilhação, discriminação por racismo, capacitismo, misoginia ou qualquer outra forma de constrangimento que atente contra a integridade física, moral ou psicológica dos alunos.” Ainda, a mesma lei afirma que “a instituição de ensino que se omitir ou se mostrar negligente no cumprimento das competências previstas neste artigo será punida administrativamente pelo respectivo sistema de ensino, na forma do regulamento, sem prejuízo de eventuais sanções penais e civis aplicáveis aos seus dirigentes por cumplicidade.”
Além disso, o documento elaborado relembra que as ações dos estudantes também fere o art. 287 do Código Penal, que proíbe “fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime”. As acusações, como citado, são principalmente pela apologia ao crime de estupro, previsto no art. 213 do mesmo Código.
O coletivo e outras partes estão articulando com a coordenação da FASM para eventuais investigações e punições cabíveis para o ocorrido. Até lá, muitos alunos, de dentro e de fora da instituição, continuam a demonstrar sua indignação e repúdio, cobrando maior responsabilidade das atléticas para que casos como esse não se repitam.
Até o momento, as articulações entre o alunato e a faculdade garantiram um firme posicionamento da FASM, que declarou não compactuar com a atitude dos estudantes e que instaurou investigação para identificar os envolvidos e tratar de punições aplicáveis, incluindo a possibilidade de expulsão.
Texto: Arthur Quinello
Revisão: Artur Santilli e Giovana Rodrigues
Imagem de capa: reprodução
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