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ENTENDA O QUE ESTÁ POR TRÁS DA NOVA NOTA DE 200 REAIS

Um dos assuntos mais comentados nesta última semana diz respeito à nova cédula de 200 reais que entrará em circulação ao final deste mês. Entretanto, você sabe as nuances que estão por trás da introdução dessa nova nota? Venha entender o contexto e a polêmica que envolvem a cédula estampada pelo lobo-guará neste artigo escrito pela nossa redatora e estudante de Economia da EESP, Daniela Carlucci.


Na última quarta-feira (29/07), o Brasil se deparou com a notícia da introdução da nova nota de 200 reais no sistema monetário nacional, ilustrada por um lobo-guará e que deve entrar em circulação ao final de agosto. Depois de 18 anos, é a primeira vez que o real ganha uma nova cédula, unindo-se às atuais notas de R$ 2, R$ 5, R$10, R$20, R$50 e R$100. Desde críticas até memes, essa novidade ganhou grande repercussão nos últimos dias. Para entender o que está por trás da criação dessa moeda, é necessário compreender desde as causas mencionadas pelo Banco Central até o efeito psicológico que a introdução de notas possui na população brasileira - além das críticas relacionadas ao possível aumento de corrupção e outros crimes no país.


Aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, a medida prevê que 450 milhões de cédulas, que equivalem a 90 bilhões de reais, sejam impressas. É importante compreender que, segundo o Banco Central, tal medida não implicará no aumento da base monetária nacional, já que a produção de outras células, como por exemplo a de R$100, será substituída pela de R$200. Dessa forma, não haverá dinheiro "a mais" circulando, haverá apenas uma substituição das atuais notas.


De acordo com o Banco Central, o objetivo da introdução consiste na necessidade de atender ao aumento da demanda por papel-moeda que se observou durante a atual pandemia do coronavírus. Em março de 2020, a quantidade de dinheiro em espécie que circulava pelo país era de 216 bilhões de reais, porém, em julho de 2020, esse número aumentou, chegando a 277 bilhões de reais, segundo o Banco Central. Um dos motivos por esse aumento da demanda está no fato de que, em momentos de incertezas, as pessoas tendem a acumular reservas. Isto é o chamado entesouramento: a prática de guardar dinheiro em casa. Ela se tornou bastante comum não só no Brasil, mas também em outros países em períodos de crise. Para muitos, ter dinheiro em mãos em momentos como o atual é sinal de segurança e estabilidade, uma vez que há a certeza de que ele não vai ser tomado pelo banco.


Além disso, é importante ressaltar que o auxílio emergencial de R$600,00, oferecido pelo governo à população em meio à pandemia, foi outro aspecto crucial para o aumento da demanda por dinheiro em espécie. Dessa forma, com o receio de uma falta de papel-moeda, já que o consumo não aumentou de forma que permitisse que o dinheiro circulasse numa velocidade capaz de atender tal demanda, a introdução da nota mais alta permitirá que as pessoas saquem maiores valores com a emissão de menos papel.


Marcado por um histórico de hiperinflação durante os anos 1980 e uma intensa introdução de novas moedas durante o período, a introdução de novas notas no Brasil traz na memória coletiva um certo temor de que o dinheiro está perdendo valor. O efeito psicológico dessa memória leva ao medo de que a introdução da nova nota indique que o real está perdendo valor. Porém, a inflação no Brasil está longe de ser alta. Segundo o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central, vive-se um período de retração. O IPCA, índice que mede a inflação, está previsto para 1,67% neste ano, e a expectativa do PIB é de uma retração de 5,77% em 2020. Portanto, a realidade de 1980 não será vivida novamente nos dias atuais.


Em meio à discussão a respeito da nova cédula, surge o questionamento: tal medida não iria contra a tendência mundial de ampliar as transações em meio digital? Em resposta a isso, o Banco Central afirmou que o dinheiro em espécie ainda é o meio mais frequente no Brasil, país marcado por intensas desigualdades sociais que dificultam o acesso a meios digitais em alguns espaços. Numa pesquisa realizada pelo próprio banco em 2018, 60% responderam que o dinheiro em espécie é o mais utilizado para as transações econômicas.


Por fim, outro questionamento que surgiu foi a respeito do impacto que a nota de maior valor teria no combate à corrupção e outros crimes no Brasil, visto que tais notas geram menor volume de dinheiro, facilitando a ocultação de recursos e o transporte de dinheiro ilegal. Em 2019, o Banco Central Europeu interrompeu a produção das notas de 500 euros, tendo em vista que muitas estavam sendo utilizadas para financiar o narcotráfico, terrorismo e outros tipos de crime.


Foto de capa: O Progresso (imagem fictícia: sugestão de possível design para a cédula de 200 reais)

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