Na quarta-feira passada (09), Fernando Villavicencio, candidato à presidência do Equador pelo movimento Construye, foi assassinado ao sair de um comício eleitoral em Quito, capital do país.
De acordo com os veículos de comunicação locais [1], o crime ocorreu às 18h20, quando Villavicencio deixava um colégio onde realizava campanha. Ao entrar no carro, três disparos acertaram a cabeça do candidato, que não resistiu aos ferimentos e morreu logo após dar entrada em um centro de saúde. Sete colombianos são suspeitos por iniciarem o tiroteio, e um deles morreu no local do crime.
No mês de maio, em um ato chamado de Morte Cruzada, o atual presidente do Equador, Guillermo Lasso, do movimento CREO, dissolveu a Assembleia Legislativa e convocou eleições antecipadas, marcadas para o dia 20 de agosto pela corte eleitoral equatoriana.
Oito candidatos registraram-se para concorrer à presidência, entre eles, o ex-deputado, sindicalista e jornalista, Fernando Villavicencio. A carreira do candidato se iniciou nos anos 1990, quando se formou em comunicação social, co-fundou o Movimento Pachakutik, partido indígena que lutava pelo reconhecimento do Equador como país plurinacional, e se tornou líder sindical do Petroecuador.
Como jornalista, investigava o crime organizado e denunciava casos de corrupção do governo equatoriano, chegando a acusar o ex-presidente, Rafael Correa, de crime contra a humanidade. Em razão das acusações, Villavicencio foi denunciado, condenado a 18 anos de prisão, e recebeu asilo político no Peru.
Sua carreira política era mais recente: em 2017 candidatou-se ao cargo de deputado pela aliança entre os partidos CREO e SUMA. Contudo, teve sua candidatura contestada, pois ainda estava filiado ao movimento Pachakutik. Quatro anos depois, em 2021, filiou-se à coalizão Honestidade, conquistando o assento como deputado.
Até a dissolução da Assembleia, Villavicencio era presidente da Comissão da Fiscalização e Controle Político da Assembleia Nacional, atuando veementemente na fiscalização do uso dos recursos públicos pelo governo.
Seu perfil investigativo e denunciante causava incômodo. O atentado que matou Villavicencio não foi o primeiro contra o ex-deputado — em setembro de 2022, sua casa foi alvejada por homens armados. Diversas vezes, o candidato relatou que estava recebendo ameaças, mas que não se sentia intimidado.
“Escutem bem: me disseram para usar o colete (a prova de balas). Aqui estou, de camisa suada, caralho. Vocês são… Vocês são meu colete a prova de balas. Eu não preciso… Vocês são um povo valente, e eu sou valente como vocês. São vocês que cuidam de mim. Aqui estou. Disseram que vão me quebrar. Aqui estou (...) que venham os chefes do tráfico de drogas, os mafiosos, que venham os vacinadores. Acabou a época de ameaças. Vão me quebrar? Podem me dobrar, mas nunca vão me quebrar.” Disse o candidato durante um comício eleitoral [2].
Fernando Villavicencio em encontro político em Quito, Equador, em 9 de agosto de 2023 — Foto: API via AP
Um conjunto de pessoas encapuzadas, que se identificaram como integrantes da facção criminosa Los Lobos, publicaram nas redes sociais um vídeo assumindo a autoria do crime. Porém, logo depois, um outro grupo veio a público afirmando serem os verdadeiros integrantes da facção e contrariando a responsabilização pelo crime. Hoje, o principal suspeito por articular o assassinato é José Adolfo Macías, conhecido como Fito, atual líder de outra facção dominante do país, Los Choneros.
A morte de Fernando Villavicencio ilustra o poder da expansão do narcotráfico na América Latina. Localizada ao lado dos dois maiores produtores de narcóticos do mundo, Peru e Colômbia, a antiga “Ilha da Paz” não escapou do cenário que a cerca e hoje enfrenta uma crescente crise de segurança.
Capa: API via AP
Revisão: Anna Cecília Serrano
REFERÊNCIAS: [1]: Siete candidatos a la Presidencia han sido asesinados en los últimos 45 años en Latinoamérica | El Universo. Disponível em: <https://www.eluniverso.com/noticias/politica/asesinato-fernando-villavicencio-candidatos-a-la-presidencia-asesinados-luis-carlos-galan-colombia-1990-luis-donaldo-colosio-mexico-nota/>. Acesso em 14 de agosto de 2023.
[2]: Candidato do Equador desafiou tráfico antes de ser assassinado: 'Que venham os mafiosos' | G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/08/10/video-candidato-do-equador-desafiou-trafico-antes-de-ser-assassinado-que-venham-os-mafiosos.ghtml>. Acesso em: 14 de agosto de 2023
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