Homens só são incríveis quando são escritos por mulheres.
Essa foi uma citação pela qual passei os olhos em uma noite de terça-feira quando abri o computador para olhar sapatinhos com laços na ponta e saias de fru fru. Depois disso, meu humor para roupas de bailarina morreu — deu lugar à fúnebre frustração que me atormenta. A integridade masculina é uma coisa que ocupa meus pensamentos mais do que eu gostaria de admitir.
Acho que te inventei dentro da minha cabeça.
Essa é a frase que Sylvia Plath repete em todas as estrofes de Canção de Amor de uma Menina Louca, o poema plathiano que mais gosto. Eu realmente te inventei dentro da minha cabeça. Tenho consciência. Você provavelmente não tem muitas das qualidades que contei a mim mesma todos os dias. Provavelmente tem todos os defeitos que tentei esconder a todo custo. Sou louca?
Tenho consciência.
Mesmo assim, algo parece errado. Estranho, para não dizer perverso. Não passei todo esse tempo em frente a uma parede lisa e inanimada, mas a um ser humano (ou uma construção) de vontades e falas inconfidentes. Foi você quem me procurou. E é você quem seguiu seu caminho sem nunca deixar que eu volte a seguir o meu, em paz.
Eu inventei a melhor versão de você e você nem me agradeceu.
Ó, que honra ocupar o imaginário feminino. Pelo menos você teve a sorte de ter sido inventado por uma mulher, enquanto eu terei que me contentar com homens que não existem pelo resto da minha vida.
11 de novembro de 2021
Autoria: Beatriz Nassar
Revisão: Guilherme Caruso
Imagem de capa: Valfre
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