Para quem é fã de revistas de moda, cultura e lifestyle, setembro é um mês especialmente agitado. Para quem faz GV e precisa aliar a leitura da Vogue com John Stuart Mill e a semana de provas, a correria requer muito café e uns vinhos para equilibrar os chakras. A parte boa da correria das notícias é que dessa vez as semanas de moda foram especialmente brasileiras.
Na semana de Nova York, depois de vestir Beyoncé para a turnê "Renaissance", Patrícia Bonaldi colocou mulheres de todos os tipos de corpo para desfilar com o melhor da manufatura brasileira. Rendas metálicas, tons terrosos e longas franjas anteciparam o que se veria em muitas coleções europeias. Atenta às tendências, PatBo, marca de Patrícia, fez vestidos de nós, chemises de seda e muito beachwear que evocava o frescor das praias brasileiras com o artesanato delicado do seu estado de Minas Gerais. Brasileiríssimo.
Na semana de Milão, Karoline Vitto, catarinense do interior, fez sua estreia com roupas de todos os tamanhos em modelagens modernas e muitos recortes sob um estudo aprofundado da forma e dos materiais, para mulheres reais. Nas roupas, medalhinhas de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil; na trilha sonora, funk carioca.
Karoline graduou-se no mais prestigiado curso de criadores de moda, Central Saint Martins, superescola londrina que formou gente como Alexander McQueen e John Galliano. Letticia Munniz, ativista do movimento body positive e modelo plus size, elogiou: “Tudo que ela faz é uma inspiração, e deveria servir como referência, principalmente para marcas que relutam em vestir corpos maiores". Se a estilista é prestigiada? Sua coleção foi patrocinada pela Dolce & Gabbana e Domenico Dolce disse que “Com Karoline e seu trabalho, foi amor à primeira vista” [1] e acrescentou: “Por favor, nunca pare!”[2].
Enquanto a semana de Milão acontecia, Silvia Braz, influencer brasileira que soma 1,4 milhões de seguidores no Instagram, cobria tudo. O resultado foi um dos maiores valores gerados por impactos de mídia durante a temporada [3] e a brasileira ficou em 5º lugar em alcance em pesquisa da Launchmetrics, plataforma de inteligência e análise de dados. Brasil na frente!
Na Fashion Week de Paris, a brasilidade veio direto da Praça da Apoteose – e foi verdadeiramente apoteótico. Gabriela Hearst, estilista uruguaia da Chloé, despediu-se da marca e para animar seu adieu levou a bateria da Mangueira que tocou País Tropical de Jorge Ben Jor no evento mais importante do calendário fashion [4] – até Venus Williams, ex-número 1 do mundo no tênis – e America Ferrera, a "Glória" de Barbie, caíram no samba. Gabriela assistia aos desfiles da Sapucaí pela TV uruguaia e decidiu se despedir da marca do melhor jeito.
Ninguém sabe fazer festa como os brasileiros e a moda e a criatividade precisam de entusiasmo. Christian Dior dizia que esse era o segredo de toda beleza. Patrícia, Karoline, Silvia e a Mangueira são um pouco do que o Brasil pode entregar de melhor ao mundo. Mulheres poderosas e culturas impactantes, com identidade e entusiasmo. E temos muito mais a dar e a descobrir. Como diria João Gilberto: isto aqui é (só) um pouquinho de Brasil!
Autor: Pedro Henrique Guimarães
Revisão: Gabriela Veit e Enrico Romariz Recco
Imagem de Capa: Mangueira no desfile da Chloé (Getty Images)
[1] Jornal O Globo, disponível em: https://oglobo.globo.com/ela/moda/noticia/2023/08/25/quem-e-karoline-vitto-a-brasileira-que-estreia-no-mes-que-vem-na-semana-de-moda-de-milao.ghtml
[2] Instagram Bruno Astuto (@brunoastuto), disponível em: https://www.instagram.com/reels/audio/1699545367199701
[3] Revista Glamour, disponível em:
[4] CNN Brasil Lifestyle, disponível em:
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