Foi-lhes tirado o direito de sonhar. Não há espaço à ambição criativa, um sonho é apenas uma utopia infantil. És privado da liberdade inventiva.
Quero o direito à inconsistência no pensamento, poder construí-lo em conjunto, com calma.
Um pensamento é cimentado, remendado e estruturado. Não deram-lhes insumos para isso.
Quero de volta — ou talvez, pela primeira vez — o direito ao mimo, ao dengo e ao chamego.
Inventar coisas boas às coisas simples, poder ser pura nas palavras.
Quero o direito de sentir sem temer, de florescer aos dedos as coisas bonitas, de sonhar com o futuro.
Quero o direito de errar sem morrer.
Poder ver as coisas através dos olhos limpos, quero vê-los crescer, quero ouvi-los pensar.
Não deram-lhes espaço de serem ternuosos e vulneráveis. Quero ter direito de ser sensível na fala, de reconstruir coisas.
Sem o direito de ser simples no sentimento, não posso inventar e sonhar coisas boas.
Quero o direito de amar criticamente, de querer sem culpa, de almejar melhoria. Poder sonhar é o direito de viver em paz, de sair em meio ao que foi negado. Quero ser foragida da sua cabeça e da minha.
Sonho em ter o direito, para não morrer no mar.
E quero sonhar pra sempre, enquanto a morte me for certeira.
Autoria: Amanda Louro Sanchez
Revisão: Beatriz Nassar
Imagem de capa: Peter Krasilnikoff
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