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MELHOR QUE MEI MEI, SÓ O ZEZÉ



Estou um pouco atrasada, confesso. Red: Crescer é Uma Fera estreou no dia 11 de março e hoje, no dia que escrevo esse texto, já é dia 24 de maio. Ainda assim, achei importante falarmos sobre o longa. Como dizem: antes tarde do que nunca. Caso você não tenha ideia de que esse filme existe, afinal ele saiu exclusivamente na plataforma do Disney Plus, faço um pequeno resumo do enredo. Red conta a história de Meilin Lee, uma menina sino-canadense de 13 anos que precisa enfrentar todas as particularidades da pré-adolescência, só que com um desafio a mais: toda vez que sente uma emoção muito forte, ela se transforma em um panda vermelho gigante. O filme aborda, entre outras coisas, os desafios do início da adolescência, a dificuldade da convivência familiar e da pressão dos pais e a importância de possuir uma rede de apoio nessa fase da vida.


No início da nova produção Disney-Pixar, é indicado que a história se passa no ano de 2002 e as referências fazem jus a isso. Tamagotchi, Crepúsculo, movimento ambiental em alta e boy bands são alguns dos muitos detalhes que mostram o cuidado em cada cena do desenho — e claro, trazem uma sensação de nostalgia para quem foi criança nessa época. É curioso que a animação traz feições dos personagens muito diferentes de como normalmente vemos nas telas. A cara de Meilin na cena abaixo, por exemplo, é impagável.


[Foto de Tiz Almeida]


Um questionamento que surge ainda no início do filme é se a indicação “livre” é realmente apropriada para seu conteúdo. Quando Mei Mei começa a entender seus sentimentos pelo caixa do mercado — que ela e as amigas acham um gatinho —, ela usa seu caderno para desenhar cenas dele abraçando-a com seus músculos e fica divagando a respeito disso. Não há nenhum problema nessas divagações por si só, afinal, com 13 anos começamos a descobrir nossa sexualidade. No entanto, o filme é livre para todos os públicos, e uma criança não consegue diferenciar as idades tão claramente. É preciso questionar se essa indicação não pode ser prejudicial às crianças menores que podem achar que estão na mesma fase que Meilin. Estamos em um período em que crianças pequenas entram em contato com o mundo dos adolescentes muito cedo e isso está sendo normalizado. Não venho de um ponto de vista moralista e conservador, é fundamental conversar com as crianças sobre o “mundo adulto” e não fazer de tudo um tabu. Devemos questionar, contudo, como introduzir esses assuntos. Se uma menina de 8 anos assistir ao filme, ela pode achar que está na mesma fase de Mei Mei e começar a se preocupar com ter um crush, arranjar um namoradinho e coisas desse tipo. Parece-me que não é a melhor maneira de mostrar para as crianças o que é sexualidade.


Por outro lado, o filme consegue abordar de maneira genial a menstruação. Quando Mei Mei acorda como um panda vermelho, ela corre para o banheiro e começa a gritar e derrubar coisas. Seus pais ouvem da cozinha e acham que O GRANDE EVENTO NA VIDA DE UMA MENINA aconteceu. Ela menstruou. Sua mãe pega uma caixinha, entra no banheiro e começa: absorvente diário, pequeno, noturno, extra grande, com aba, sem aba, remédio pra cólica, bolsa de água, chá… Explica tudo isso com Mei Mei escondida no box. De repente, a menina grita com a mãe em uma explosão de raiva. Ao invés de repreendê-la, a mãe explica sobre menstruação e mostra seu apoio à filha. Ensina que não é motivo para vergonha, que é algo natural do corpo. Foi descuidada, no entanto, quando disse que Meilin tinha virado mulher. Não é verdade, uma menina não vira mulher quando menstrua. Ainda é uma criança, mas uma criança que entrou na puberdade. É importante pontuar isso para que não passemos a tratar meninas de 13 anos como mulheres adultas.


Um dos grandes focos do filme é mostrar como a pressão dos pais pode afetar muito a mente de alguém dessa idade. Mei Mei é uma menina muito estudiosa e aplicada, mas essa dedicação passa do ponto por pressão de sua mãe. Com grandes sonhos em mente para sua filha, Sun Yee exige que suas notas sejam impecáveis e que ela, na oitava série, já esteja pensando em mil e uma atividades extracurriculares para que possa passar na melhor faculdade. Além disso, a mãe controla todos os movimentos e atividades da filha, dando a Meilin uma única saída: mentir. A mensagem do filme é abrir um canal de comunicação com os pais para que ambos os lados sejam honestos e possam confiar um no outro. As diretoras fizeram a mensagem de uma maneira sincera para ser passada aos pequenos — e aos pais.


Na plataforma do Disney +, o documentário O Abraço do Panda: A Fera Vermelha mostra os bastidores da produção do filme. Red é um marco importante no estúdio da Pixar e no mundo do cinema por ter sido liderado principalmente por mulheres. A diretora Domee Shi, criadora da curta metragem Bao, conta sobre como o processo de criação e produção foi muito diferente por ter sido feito em um ambiente feminino. Um exemplo é o caso de Rona Liu, designer de produção que estava grávida durante o processo: recebeu acolhimento e pôde contar com a sensibilidade da equipe para atender às suas necessidades. Todas as diretoras da obra falaram que se sentiram muito mais à vontade na equipe de Red do que em outras produções de que já participaram, se sentiram mais ouvidas e reconhecidas por estarem em um ambiente majoritariamente feminino.


Além de tudo que mencionei, o filme tem muitas outras mensagens fundamentais, detalhes precisos e uma moral da história importante: de que devemos abraçar as nossas feras, e não tentar nos livrar delas. No final da obra, Priya, uma das melhores amigas de Mei Mei, usa uma camisa com a bandeira LGBTQ+. Ou seja, acho que estamos próximos de um personagem assumidamente gay nas telas mágicas da Disney! Feito por mulheres, com uma protagonista sino-canadense e uma proposta inovadora, Red: Crescer é Uma Fera é, na minha humilde opinião, o melhor filme recente da Pixar-Disney. De todos os filmes do estúdio, acho que só perde para a obra-prima que é Os Incríveis.


Redatora: Tiz Almeida


Revisores: Beatriz Nassar, Bruna Ballestro e Guilherme Caruso


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