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Monte sua árvore de Natal



Começamos novembro, o que significa que todos podem começar a montar suas árvores de Natal. Já não era sem tempo, pois parece que esse ano durou dois. Sabe-se lá o que aconteceu com o espaço-tempo – a Física, a NASA e o Elon Musk deveriam estar preocupados com isso – mas o fato é que, para mim, 2023 foi um ano e tanto. Um ano e mais um tanto. A parte boa é que enquanto escrevo para a Gazeta, me planejo para escrever ao Papai Noel.


Fernando Pessoa também experimentou anos difíceis. Escreveu que nunca conheceu ninguém que tivesse levado porrada, que os conhecidos dele vêm sendo campeões em tudo; mas que ele, por tantas vezes, foi relés, porco, tantas vezes vil, ridículo e absurdo. Esse ano eu fui muito como ele e por isso estou ansioso para pedir ao Papai Noel que os meus conhecidos continuem vencendo, mas que flexibilizem os participantes do pódio.


O poeta, nas suas adversidades anuais, escreveu que estava farto dos semi-deuses; que estava procurando gente, como ele e eu, errônea, angustiada, covarde! Portanto, para quem levou na maciota essa loucura de ano, que não é fã da árvore, nem acredita em Papai Noel, alerto que não perca tempo com um texto para gente normal.


Neste ano e tanto, enquanto arrumo bolinhas de Natal e pisca-piscas, vejo uma retrospectiva de desastres que vou deixar ao Globo Repórter explicar. Meu papel na dinâmica das coisas consiste em deixar a mensagem para quem lê essa revista que as árvores de Natal devem resolver uma parte dos desastres e por isso, cabe a nós o dever de montá-las.


O que a árvore pode resolver é nos lembrar que o pior já passou e que, ainda que seja difícil, o próximo ano vai ser um respiro novo. Há dois anos, Nizan Guanaes, publicitário que é uma das 12 lendas vivas da publicidade para Cannes, estimulou as pessoas a montar a árvore de Natal logo em julho. Ele pode inventar essas modas. O resto de nós, que é mais trivial e mais próximo do Fernando Pessoa, o faz a partir de novembro.


Se este ano apresentou desafios que por vezes pareceram maiores que nós, registro ao universo que nós vencemos o ano. É novembro, se aguentamos até aqui, mais 40 dias se tira de letra. Por isso, agora, diante da minha próxima árvore de Natal, eu escrevo ao Papai Noel, pois o passado é um problema do passado, o presente eu vou resolvendo como dá e ao Papai Noel cabe levar o resto da urucubaca de 2023.


Eu, que nunca conheci quem tivesse levado porrada, todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo, espero que a árvore de Natal me lembre que ano que vem eu possa aprender mais com gente absurda, que tá na luta. E que eu e essas pessoas poderemos estar, algumas vezes, no pódio desses grandes conhecidos. Ou não. O fundamental é saber que atribulações de qualquer ano são normais, desde que a gente faça o que dá. Também não somos derrotistas, porque não é nada elegante, ensinou Maggie Smith em Downton Abbey. Vou fazer com o Papai Noel o que faria o Romero Jucá: “um grande acordo nacional para parar isso aí”. Boa sorte nas suas cartinhas ao Santa Claus, desejando árvores de Natal imperfeitas, mas igualmente mágicas a todos.


Autoria: Pedro Henrique Guimarães

Revisão: André Rhinow e Gabriela Veit Imagem de capa: Getty Images

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