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NOS FANTASIAMOS PARA QUE?

"Clothes make a statement. Costumes tell a story."

- Mason Cooley


O Halloween (ou o Dia das Bruxas) se aproxima. Quando menos esperarmos chegarão as festas à fantasia, os "doces ou travessuras", os sustos e os filmes amedrontadores. Cada um comemora do seu jeito, e cada vez mais esta data se torna importante no Brasil. Sinto que pra mim, o Halloween significa se fantasiar.



Todo ano celebramos esta data na minha família, enfeitamos a casa inteira da maneira mais mal assombrada possível. Me lembro de desencaixotar os enfeites de caveira e fantasma com a minha mãe, desde pequena nós decoramos nossa casa no Dia das Bruxas, assim como fazemos no Natal. Todo ano penduramos uma grande aranha no lustre da sala, substituímos alguns quadros da parede por bonecos de fantasma e enchemos outros de teias de aranha falsas, colocamos caveiras brilhantes nas mesas, iluminamos o ambiente com velas, fazemos várias comidas “assustadoras” e mais importante de tudo: construímos nosso mordomo sem cabeça. Minha casa se transforma completamente, de um lar aconchegante a uma caverna escura e assombrosa (ou pelo menos é o que tentamos fazer).


Fora a casa, temos que, nós mesmos, sofrer uma metamorfose. As fantasias devem receber seu devido tempo e dedicação. Mais de um mês antes começo a pensar no que vou ser no Halloween. Procuro inspirações, tento montar a fantasia e normalmente falho miseravelmente diversas vezes até achar algo que funcione. Mais do que tudo, eu procuro achar uma fantasia que faça sentido para mim. 


Optamos sempre por escolher fantasias assustadoras, nada de princesas e heróis, escolhemos vilões e monstros, figuras sanguinolentas e amedrontadoras. Um dos primeiros Halloweens que me lembro de minha fantasia eu era a Rainha de Copas. Me produzi o máximo que pude: prendi meu cabelo e o pintei inteiro de vermelho, minha cara ficou branca, escondi minha sobrancelha com cola e base e fiz a maquiagem mais elaborada que consegui (nunca imaginei que conseguiria me pintar daquela maneira) e naquele dia eu me transformei. Durante uma noite, eu não era mais eu, mas uma tirana que adorava gritar: "CORTEM-LHE AS CABEÇAS”. Lembro que foi bem divertido, é uma memória que guardo perto do coração e que me motiva a fazer fantasias elaboradas todo ano, mesmo em meio ao caos da minha vida e das mil obrigações que me comprometi a cumprir. 


Assim como uso de filmes, séries e livros como um escapismo da minha realidade, uso o Halloween. No dia em que me fantasio eu não sou mais eu, minhas obrigações deixam de ser minhas e o que me resta é viver o universo de quem eu escolhi me transformar. Os filmes nunca foram capazes de me transportar para outro mundo como a fantasia. Eu me metamorfoseio quando apresento uma peça e visto o figurino de uma personagem, eu me metamorfoseio quando decido ser o vilão de um filme que eu amo, eu me metamorfoseio quando minhas feições deixam de ser minhas e passam a ser de outro alguém.


Na minha família não sou só eu que amo me fantasiar nesta data, quem sempre entrega as melhores criações é meu tio, ele se produz de modo a se transformar completamente. Lembro-me de um ano em que um chuveiro compunha sua fantasia, ele tinha sido assassinado ao tomar banho. Não teve como superar essa produção. Outro ano ele decidiu se vestir de vendedor de balão e basicamente construiu uma casa brilhante e cheia de bexigas (que aliás pegaram fogo no meio da noite). Cada ano aumentamos nossa festa, mas nunca alguém conseguiu pensar em uma fantasia melhor do que as dele.



Os símbolos do nosso Halloween começam a fazer sentido quando olhamos para sua história. Os celtas celebravam o fim do verão com uma festa chamada de Samhain, que começava dia 31 de outubro e durava 3 dias. Comemoravam a fartura de comida após o fim das colheitas e, em homenagem ao Rei dos Mortos, acendiam uma fogueira para repelir a bruxaria e os demais espíritos maléficos que estariam à solta nesta noite. Acreditavam que o véu que separava o mundo dos vivos e dos mortos era levantado por algumas horas, e o fogo era a única maneira que tinham para se proteger. Anos depois, na Inglaterra, o Papa Gregório III cristianizou a data, ao mudar o dia do "All Saints Day" (Dia de Todos os Santos) para 1 de novembro, e dia 31 de outubro foi nomeada de "All Hallows Eve" (que se traduz para véspera do Dia de Todos os Santos). Surge então o nome "Halloween” e, misturadas as tradições, surge a comemoração que conhecemos nos dias de hoje. 


As caveiras e fantasmas, as velas, a bruxaria e a fartura de comida se explicam claramente pela origem dessa data, mas e as fantasias? A verdade é que a história também explica, só escolhi deixar de fora para deixar você, leitor, mais curioso. Os celtas se vestiam com peles de animais e máscaras, na esperança de não serem reconhecidos como humanos pelos espíritos maléficos, e assim se esconderem. Eles acreditavam também que suas divindades lhe pregariam peças nessa noite, e por isso precisavam fugir de sua ira. Se fantasiavam para se metamorfosear em outras criaturas e deixar de ser eles próprios. Resta então a pergunta, nos fantasiamos para nos escondermos? Ou nos fantasiamos para fugirmos? Ou será que na verdade queremos contar uma história?



Autoria: Elis Montenegro Suzuki

Revisão: Isabelle Moreira

Imagem de capa: por Elis Suzuki

 




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