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O FIM DA CRIATIVIDADE

Qual foi o último filme que você assistiu no cinema? Ele te surpreendeu de um jeito que outros filmes não te surpreendem? Nossa redatora, Luiza Castelo, compartilhou uma análise do atual cenário cinematográfico, mas especificamente sobre sua originalidade das obras, ou melhor, a falta dela

Qual foi a última vez que você entrou no cinema para ver um filme verdadeiramente original? Mais especificamente, qual foi a última vez que você viu um filme hollywoodiano verdadeiramente original? Deve fazer algum tempo, já que os maiores lançamentos de 2018 incluíram, no gênero de super-heróis, “Vingadores – Guerra Infinita” (o 19º filme do universo estendido da Marvel) e “Deadpool 2”; nas animações, os “Incríveis 2”, “Detona Ralph 2 e “Como Treinar o seu Dragão 3”; e nas comédias brasileiras, “De Pernas pro Ar 3”, “Cine Holliúdy 2”, “Minha Vida em Marte” (sequência de “os homens são de marte e é pra lá que eu vou”) e "O Candidato Honesto 2". Isso para não falar de "Jurassic World 2", “Oito Mulheres e um Segredo” (refilmagem feminina de “11 Homens e um Segredo”), “Solo – Uma História Star Wars”, “Tomb Raider - A Origem”, “Maze Runner 3”, “Cinquenta Tons de Liberdade (terceiro da trilogia 50 tons de cinza)”, "Missão Impossível 6" e "Animais Fantásticos 2". Deu pra notar o padrão?


Isso porque me ative somente a 2018 (e citei apenas alguns exemplos). Se regredisse um pouco mais no tempo ou olhasse para a agenda futura de lançamentos, praticamente só veria refilmagens, adaptações, sequências, “pré-quencias” e os chamados “universos expandidos” (como a Marvel, DC e o universo de Star Wars).


Apresento essa observação não como uma crítica a essas franquias, pelas quais sou completamente apaixonada, mas como uma observação do que se tornou a indústria americana de cinema atualmente.

Hollywood fez história ao construir o que eu gosto de chamar de “indústria da criatividade”. Desde os primeiros filmes ainda mudos, o público entrava em uma sala de cinema com o intuito de se surpreender, de ver o que lhes parecia inimaginável. Não que fosse particularmente difícil surpreender um público que presenciava o cinema pela primeira vez, mas esse ideal acabou tornando-se o cerne da indústria de cinema americana. Isso não quer dizer que as histórias contadas fossem necessariamente originais, muitas vezes eram adaptações de histórias clássicas ou livros de sucesso, mas havia um esforço para causar uma reação ou impacto no público. Transformar sonhos em realidade era basicamente um mantra.


Esse padrão foi reforçado novamente no final do século XX, em uma espécie de “renascença de Hollywood”, na qual o enfoque da indústria mudou para novos e inovadores diretores, como Tarantino, Coppola, Spielberg, Kubrick, Scorsese, etc. Esses homens recolocaram o cinema americano no mapa e reinventaram o que o público médio compreendia como a sétima arte (além de inspirarem uma geração de metidos a cinéfilos que se consideram altamente cultos quando apreciam suas obras). Mais uma vez, nem todas as histórias contadas eram necessariamente originais, mas elas eram contadas de maneira original. Havia uma espécie de compromisso com a criatividade, um compromisso que vem ficando de escanteio, especialmente na década de 2010.


Quero esclarecer que minha intenção não é dizer que não existe mais criatividade na produção cinematográfica como um todo. Filmes com alto grau de originalidade (até mesmo com um quê de revolucionários) são produzidos todos os dias no cinema americano independente e especialmente fora dos EUA. Há muito mais na sétima arte do que apenas os grandes estúdios hollywoodianos e, mesmo do cinema mainstream, podem sair verdadeiras joias de vez em quando. Mas quando o assunto são as grandes produções, não é difícil perceber a tendência dos estúdios para apostas seguras e pouco ousadas.


É difícil apresentar um culpado da situação com a qual introduzi esse artigo, especialmente porque acabou se constituindo um ciclo vicioso. A indústria produz o que vende bem e o público fica na sua zona de conforto, consumindo o que conhece. Vamos ao cinema para ver o que já conhecemos, não queremos ser desafiados. Nostalgia se tornou o maior atrativo do mercado do entretenimento e quem pode nos culpar? É delicioso mergulhar em um universo já familiar, é justamente a razão pela qual assistimos a séries, novelas ou lemos sagas de livros. É fácil e não exige muito esforço em tomada de decisão. E o mercado responde a essa demanda.


Com isso não quero dizer que devemos todos desistir dos filmes da Marvel e consumir apenas filmes franceses alternativos, longe disso. Mas talvez para quem gosta de cinema, independentemente do gênero preferido, vale a pena analisar que tipo de entretenimento estamos consumindo e se perguntar: para onde foi a criatividade de Hollywood

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