No texto de hoje, nosso redator Luca Mercadante discute sobre como o Twitter contribui para a dinâmica da vida em isolamento social, seja de maneira saudável ou enriquecendo discussões tóxicas. Uma rede social cujo intuito é falar tão pouco, mas ao mesmo tempo as interações entre os usuários dizem muito. E você, tem Twitter?
Há algum tempo, fiz um texto a respeito da minha atividade no Twitter. Lá, contava sobre meus deslumbramentos e aventuras nessa nova rede social que tinha acabado de entrar. Agora, trago as atualizações da minha experiência com esse, já não tão mais recente, hobbie. Não deixo de avaliar o impacto da plataforma sobre mim neste período de quarentena.
Vou começar com as qualidades. Se eu já recomendava a rede social antes da quarentena, agora recomendo ainda mais. É um ambiente em que se pode fazer amigos, além de existirem comunidades que abrem espaço para você se expressar naquilo que te interessa, te toca. Mas acho que o principal motivo é: tenho a impressão de que o Twitter te possibilita ter contato com a rotina das pessoas. Lá, as pessoas comentam os filmes que assistem, suas frustrações, seus gostos musicais, suas felicidades e tristezas. Há alguma humanidade em cada um daqueles 240 caracteres. Mas nem tudo são flores.
Acho que os problemas sempre existiram, mas a quarentena catalisou-os. O primeiro, e o mais óbvio, é que a rede social pode acabar tomando mais do seu tempo do que deveria. Ainda assim, se o motivo de procrastinação for prazeroso, não parece ser tão grave.
Agora, vamos falar da força motriz daquele turbilhão de ideias que passa por ali todos os dias. As brigas e discussões fazem parte do organismo da rede, e tomar partido nessa atividade é uma faca de dois gumes. As discussões são super proveitosas, se aprende muito com o que está sendo dito ali, mas é tão desgastante quanto.
Toma tempo. Uma discussão pode levar horas, mas ainda tem uma questão de bem estar. Muitas vezes o debate de ideias toca no ego de um dos participantes e aí o negócio desanda. De todas as redes que já participei, o twitter é a que tem as piores brigas. Elas são longas. Podem ter respostas infinitas para as questões levantadas ali. Se você entra na linha de fogo, pode perder uma tarde numa brincadeira dessa. E, agora, não é só perder tempo.
Aquelas tardes em que você se mete em uma confusão online são emocionalmente desgastantes. Os comentários defendendo seu lado são incontáveis, os contrários, também. Parece que não acaba nunca. Imagino que lidar com essas coisas sem ter seus amigos do lado, sem ter o contato humano para te relembrar que tem gente que gosta de estar com você, é ainda mais difícil. Pelo menos, pra mim, foi.
Me disseram, na fase de revisão desse texto, que ficaria legal se eu contasse alguns dos casos aos quais me refiro quando digo discussões intermináveis. Dar alguns exemplos. A ideia era contar um pouco dos casos maiores, que viralizaram, para ilustrar meu ponto. Vou acatar a crítica, com alterações: vou contar um caso meu.
Um dia desses, vi um post a respeito de um tema que é um pouco controverso nos estudos econométricos: o RCT (randomized controlled trial). Aos que não sabem o que é, não faz nenhuma diferença para o ponto que quero fazer. Aos que têm interesse em saber, existe um texto interessante do Bruno Daré, aqui mesmo na Gazeta, falando um pouco sobre isso. Voltando, vi o post e como é um tema que não gosto e tenho algumas ressalvas, respondi o post com uma piadinha. Aí começou.
Desse post, veio uma resposta. Dessa resposta, me surgiu uma pergunta, Dessa nova pergunta, outra resposta. Assim foi indo. Em determinado momento, depois de umas 30 mensagens, uma das pessoas envolvidas na discussão faz uma resposta que começa com algo do gênero: “você não entendeu nado do que eu falei.” Fiquei furioso.
Eu tinha entendido o ponto dele, estava claro. Fiz rapidamente uma resposta, um tanto mal educada. Logo que respondi, vi que o comentário dele era para outra pessoa. Apaguei o que havia escrito, fechei a aba do Twitter. A discussão tinha chegado ao fim, já estava esgotado. Respondia por responder. A prova: respondi uma crítica que nem me dizia respeito.
Mesmo nessa discussão, que foi calma e respeitosa, me desgastei. Nas que não são, o desgaste é muito pior. Às vezes, termino com raiva, outras, arrependido, mas quase nunca com um sentimento bom. Esses casos, prefiro não contar aqui, mas acreditem em mim, eles acontecem.
Hoje, acho que já aprendi. Me abstenho de assuntos que podem me desgastar emocionalmente, dou um basta quando canso do assunto e sigo a vida curtindo tudo de bom que o twitter pode oferecer. Aos que estão no twitter, acho que agora pensar nas palavras pode fazer bem para a comunidade. Para os que não estão, recomendo que se aventurem, mas tomem cuidado, porque realmente são dois lados de uma mesma moeda.
Foto da capa: Spectator Life
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