Eu sinto o efeito
desses bares cheios de almas tão vazias
Beijando meus lábios.
Te sinto, São Paulo.
Inconsciente por essa pegada,
Você me preenche com tudo que pode me prometer:
nada.
Me envolve, me encanta,
Tem tanto que me ganha.
E me gira feito valsa em sua mão.
Viro-me nos caminhos
dessa sua imensidão;
Puxa o meu braço e
me dança,
Enquanto eu ainda tô(,) São.
Me silencio para ouvir sua verdade,
Mas só grita a vaidade
E eu me mudei nessa cidade.
Fico presa
Nestes seus braços tão soltos
Que só pregam liberdade.
Te silencio, São Paulo,
Sou eu que me prendo.
E eu que me rendo
Porque não te compreendo.
Enquanto me mato vivendo,
Te vivo, São Paulo.
Não larga o meu pensamento,
Te vejo a todo momento,
Mas eu nunca conheci os seus detalhes.
Enquanto invade minha boca,
Domina o meu coração
E meus pés já moram no seu chão.
A gente nunca se morou, São Paulo.
Em meio a essa dança,
Você me fez criança
E eu perdi a minha vida.
Me enlaça e me encanta
Que eu me sinto acolhida.
Mas você me consumiu,
O seu beijo era vil,
Você me deu o que nunca existiu.
Por você tive apreço,
Logo por ti, que me deu preço
E me viu como outros mil.
Santo Paulo estava bem na minha frente,
Mas foi meu entorpecente
E em nenhum instante eu ouvi:
Que a nossa dança
Era uma marcha fúnebre constante.
Sem amém,
Já que aqui não há amor em ninguém,
Esse santo não me livrou do mal por um instante,
Fazendo o inferno e o paraíso nesse local também,
E eu sequer cometi pecados para estar aqui.
Por não saber rezar,
Te peço que interceda,
Que me perceba
Em sua arquitetura hostil.
É, eu sou só mais uma no Brasil.
Autoria: Ana Cristina R. Henrique
Revisão: Fernanda Abdo e Lucas Tacara
Imagem de capa: Guilherme Cruz na Avenida Paulista
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