Tenho a teoria de que os professores da FGV nunca conversam entre si. Nunca. Talvez nem mesmo nos corredores, nos intervalos, na hora do almoço. Devem trocar breves bom dias e deixar por isso mesmo. Ou não existe empatia na esfera docente do mundo gvniano.
É simplesmente impressionante, senão surreal, a existência regular de uma ou duas semanas absolutamente infernais a cada semestre. O prazo de todos os trabalhos se encontra dentro do mesmo período de sete dias e pode ter certeza que ainda encontrará uma prova parcial ou outra no meio disso. Pedidos de adiamento de entrega caem como chuva nas caixas de e-mails dos pobres professores, e as bibliotecas lotam. Bibliotecas estas que parecem freezers humanos. Nunca pensei que ia sair de casa num dia de 30ºC e previsão de temperatura mínima de 25ºC com o meu moletom mais quentinho na mochila, mas paciência.
Como se não bastasse, alguns professores vivem numa realidade alternativa em que todos os alunos cursam apenas uma disciplina — a deles. Como assim você não leu todas as 300 páginas de leitura disponíveis no e-Class? Como ousa alegar que dois textos de 100 páginas cada e um acórdão de 500 era um pouco demais? Pior: como pôde não se preparar de forma alguma e ainda ter o descaso de fazer cara de cansaço durante a minha aula?
Constantemente vejo colegas faltando em aulas da graduação para trabalhar em atividades de outras aulas da graduação. Incluo-me em “colegas”. Uma amiga me disse essa semana que “a faculdade está atrapalhando o meu desempenho na faculdade”, e nunca ouvi verdade maior: a demanda exigida na faculdade me impede de aplicar o esforço necessário para cumprir com as demandas da faculdade. O jeito é estimular rinha entre professores — tire satisfação do seu baixo quórum com quem estabeleceu prazo de entrega do trabalho extraclasse para o dia da sua aula. Culpa minha não é.
Podem me atingir com afirmações de que é tudo questão de organização e que eu só preciso gerenciar meu tempo com maior maestria, mas que atire a primeira pedra quem nunca ficou sobrecarregado com a FGV mesmo com a maior organização do mundo. Acho que os professores precisam marcar mais confraternizações, sair para tomar um café, criar agendas conjuntas no Google Agenda, fazer reunião de planejamento estratégico, sei lá. Qualquer coisa que impeça o fenômeno recorrente, traumatizante e arrepiante que enche os corredores da Fundação com comentários de “essa semana tá um inferno”, “juro, parece que tudo de todas as matérias caiu nos mesmos dias”, “quero trancar o curso” e “não aguento mais”.
Não é que sou ingrata, longe disso. Aprecio a oportunidade de estar aqui e todas aquelas outras coisas. Mas, pelo amor de Deus, depois de 3 entregas de trabalho e 2 provas na mesma semana, daqui a pouco vou estar emitindo pedido de socorro.
Por fim, deixo aqui minha súplica aos professores: combinem um integras, uma RGzinha. Essas coisas fazem fama nas nossas entidades estudantis e possibilitam longas conversas em que todo mundo pode se gabar um pouco do seu trabalho, quem sabe não surge maior compreensão pelo estado deplorável de boa parte dos alunos durante aquelas semanas em abril/maio e setembro, respectivamente. Faz bem e evita a frustração com baixo engajamento. Afinal, enquanto há professores que efetivamente tentam não sobrecarregar os alunos, isso de nada adianta se não existir qualquer organização interna.
Ou joguem café uns nos outros, tanto faz. Desde que no fim do dia alguns prazos fiquem para a semana que vem.
Autoria: Anna Cecília Serrano
Revisão: Luiza Parisi e Enrico Recco
Imagem de capa: Arte por Xin Yan Zhou
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