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PRA ONTEM

Nosso editor chefe Victor Coutinho, compartilhou conosco um intrínseco texto que reflete a realidade de um universitário médio de qualquer lugar do mundo, a capacidade de deixar tudo para a última hora

Um fato: eu não consigo cumprir as tarefas que dou para mim mesmo. Neste exato momento estou cuspindo este texto que já deveria ter escrito há dias mas que, digamos assim, acabou ficando para agora. Você pode estar achando que é uma tremenda contradição alguém ser incapaz de realizar compromissos autoimpostos. Pois tenho uma coisa para lhe dizer: de fato, é. E pensando bem, talvez essa coluna devesse deixar de ser tão confessional agora que eu decidi escrever um grande atestado de incompetência. Bom, já foi.


Mas calma, não é que eu não cumpra meus compromissos (se essa frase fosse uma pessoa, ela estaria dando um grande sorriso amarelo neste exato momento). É só que a maior parte das coisas vão ficando para serem feitas de última hora, embora ainda assim sejam feitas, eventualmente e dentro - leia-se, no limite máximo - do prazo. O universitário médio deve estar revirando os olhos sarcasticamente agora que eu descrevi com ares de novidade um comportamento absolutamente comum em todo mundo. Eu deveria então acrescentar que tem algo revolucionário neste texto, uma conclusão incrível que vai dar sentido a tudo isso. Mas acho que não vai ter não, sendo sincero.


Voltando aos compromissos: um elemento limitador da minha procrastinação é a possibilidade de decepcionar alguém. O que isso quer dizer? Que não sou muito bom em deixar os outros na mão de propósito (ênfase no “de propósito”), de maneira que quando assumo um compromisso envolvendo terceiros a probabilidade de cumprimento aumenta. O exemplo mais claro disso está diante dos seus olhos: eu não vou decepcionar meus pares deixando de entregar este texto, embora naturalmente possa decepcionar o leitor que não gostar do conteúdo. A primeira depende de uma intenção, a segunda, do acaso. A incapacidade de decepcionar intencionalmente é nada menos que um grande medo social trabalhando a favor da sociedade.


Já que falei da bendita sociedade, não posso, é claro, perder essa oportunidade de criticá-la. Aqui vai minha crítica social foda: a constante pressão por produtividade é, para usar um termo técnico, uma merda. A urgência de empregarmos todo nosso tempo livre com atividades produtivas é enlouquecedora porque alimenta ansiedade e sentimento de culpa. Como se não bastasse, essa exigência social sequer faz sentido, porque as pessoas precisam de lazer e descanso para se manterem produtivas. É por isso que eu quase nunca troco noites de sono por trabalho (não tem nada a ver com preguiça, viu…).


No fim do dia, talvez seja interessante deixar uma pretensa lição de moral. Mas vai ser de coração. Eu gosto sempre de buscar um caminho parcimonioso, então meu conselho é o famoso “nem tanto à terra, nem tanto ao mar”: é importante buscar meios de melhorar a própria organização, até mesmo para tornar realidade os nossos próprios objetivos; o que não podemos perder de vista é o cuidado para que isso não vire uma obsessão. Ou seja, isso é um jeito pomposo de dizer que você deveria jogar um tempo fora de vez em quando e que não tem problema nenhum nisso.

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