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PREPOTÊNCIA, TEIMOSIA E UMA CORRIDA QUE VEIO CEDO



Tem coisa mais arrogante do que um político brasileiro?


“Tem coisa mais arrogante do que um político?”, talvez você pense em retrucar. E eu diria que você tem um ótimo ponto. No mundo inteiro, parece que os representantes populares entendem, erradamente, que vox populi, vox dei os eleva ao mesmo nível do Papa. O abuso de poder entre cidadãos do colarinho branco tende a ser um tema comum em todas as democracias. 


Mas eu responderia a essa objeção com uma consideração: existem papas e papas. De um lado, temos o carismático reformista Francisco, que, apesar de não fugir da inevitável massagem de ego que acompanha o papel de Santo Padre, não é ridiculamente dracônico. Do outro, temos João XII, que foi arremessado de uma janela depois de fornicar com uma dama casada. Uma dessas personalidades se encaixa um pouco melhor como analogia para o assunto de hoje.


“E o assunto de hoje é falar que nossos políticos são arrogantes?”, isso pode vir à sua cabeça. Mas não, não é exatamente isso. Seria um tanto leviano fazer um texto ao redor disso, afinal, já sabemos dessa realidade inevitável. Mas o Brasil é um exemplo de um fenômeno um pouco distinto que está adiantando as eleições de 2026: em que ponto o poder deixa de ser vetor de soberba e te leva de volta para baixo? Nem mesmo as duas forças políticas mais polarizantes da Nova República escaparam dessa gravidade. O jeito de retardar essa queda inevitável é, além de chegar no poder e manter-se lá, eleger um sucessor. Mas quero provar hoje que os figurões contemporâneos chegaram em um nó górdio impossível de cortar na terceira etapa.


Vamos começar primeiro pelo futuro da direita e, depois, falaremos sobre a esquerda.


Para começarmos, o principal líder da oposição, ao menos por ora, Jair Bolsonaro, está enfrentando um certo perrengue envolvendo o próximo pleito. A versão direitista de João XII insiste que sobreviveu à queda da torre e pretende voltar aos aposentos presidenciais. Em entrevista à Veja, o ex-presidente afirmou que “está vivo” e é o candidato para 20261 (sim, verbo “ser” no presente do indicativo mesmo). Pouco mais de uma semana e meia depois, reiterou sua prova de vida em uma entrevista ao jornal Metrópoles, postulando que seguirá na disputa até sua “morte política ser anunciada para valer”2. Note que Bolsonaro está inelegível até 2030 por abuso de poder3.


O que leva alguém a querer concorrer mesmo estando inelegível? A pergunta não é tão óbvia quanto parece. Normalmente, existem um ou mais meios de se manter influente sem estar em um cargo eleito. Um deles é sendo cabo eleitoral. Nesse caso, ou ele ativamente não quer fazer esse papel, ou é naturalmente péssimo nisso, ou talvez ambos. Tanto em 2020 quanto neste ano, o capitão da reserva foi uma âncora política dos quais os candidatos da direita tentaram minimizar o envolvimento ao máximo4. Basta olhar para como Ricardo Nunes tratou sua relação com Bolsonaro. O paulistano esquivou de todos os modos possíveis de assuntos que o envolvessem, limitou suas interações com o PL a Valdemar da Costa Neto, engolindo sua imposição para vice, e tentou atrelar sua imagem o máximo possível a Tarcísio de Freitas5, cuja figura é mais tolerável para grande parte dos moradores da capital.


Faz sentido, então, concluir que Bolsonaro quer tocar uma tática de terra arrasada na direita brasileira. O ex-presidente ainda não aceitou que perdeu a hegemonia dentro do campo político e que seus apadrinhados, como o governador paulista, ganharam mais espaço ao passo que buscam se desassociar de seu nome. Esse fenômeno é a mais cristalina ilustração do problema central do bolsonarismo como movimento político: a inexistência fatal de qualquer coesão ideológica ou lealdade a uma causa maior.


Entendo que pode parecer absurdo dizer que o bolsonarismo não tem ideologia bem definida, mas creio que podemos identificar essa deficiência no próprio ex-presidente, por exemplo. Seu conservadorismo, de modo geral, é da boca para fora e puramente eleitoreiro. Enquanto deputado, Bolsonaro votou quase que inteiramente junto com as bancadas governistas de Lula e Dilma6, foi contra as reformas promovidas por FHC, incluindo o Plano Real (sugerindo, inclusive, fuzilá-lo7), elogiou Aldo Rebelo8 e fez campanha pelo Lula contra José Serra em 20029. Em 27 anos de mandato no legislativo, dificilmente alguém arriscaria ao classificá-lo na direita. “Mas ele defende os ‘bons costumes’, não é?”, você poderia argumentar. Se você considerar admitir sexo com galinhas10 e falar que seu quarto filho só não foi abortado por causa da mãe11 como defesa de valores tradicionais, então sim, ele defende. Em resumo, Jair Bolsonaro sempre foi um militar corporativista e corruptível, jogado na política para garantir a sua parte por qualquer que seja o meio. Se ele precisasse, trocava Guedes por Haddad, Moro por Zanin, e por aí vai. Para angariar apoio nessas circunstâncias, a única saída são os mercenários. E, se você já leu Maquiavel, sabe que isso é uma ideia ruim.


Note como a base do bolsonarismo é bizarramente construída. Se você votou em 2018 ou acompanhava política na época, quem foram os deputados e senadores apoiados pelo candidato? Qual nome estava fechado com o “mito” desde cedo? Se foi difícil responder essa pergunta, eu não o culpo: a resposta é ninguém. O candidato era uma piada esotérica e ninguém ao menos tinha planos de se alinhar a Bolsonaro até sua despontada astronômica nas pesquisas12. Sim, ele estava para o começo daquela corrida assim como Eymael está para todas as outras. Aliados e Inimigos, nessas circunstâncias, são celeremente trocados, basta ver o abandono de Joice Hasselmann, Janaína Paschoal, Gustavo Bebianno, Sérgio Moro, Davi Alcolumbre, dentre outros, e, similarmente, como Arthur Lira, Valdemar da Costa Neto e Ciro Nogueira tornaram-se campeões de sua base em pouco tempo.


As consequências dessa falta de coesão são claras: quando falta pagamento, os mercenários vão embora. Lembra-se do “BolsoDória” em São Paulo? Parece delirante tentar associar os dois em 2024, não? Mas a derrocada da dobradinha em 2018 foi apenas um presságio do quanto seus “companheiros” tendiam a abandonar o barco conforme sua presença tornou-se mais arsênica13. Seus desastrosos quatro anos na presidência, marcados pela falta de confiança na sua palavra e uma incompetência generalizada, culminando na maior crise sanitária no Brasil desde a gripe espanhola, praticamente garantiam a impopularidade de todos os seus associados, especialmente em grandes centros urbanos, que foram o lar da ressurgência direitista em 2016.


O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, já está se projetando para disputar a presidência sem o apoio do ex-presidente14. O recém derrotado Pablo Marçal está obviamente querendo achar uma brecha para se juntar à disputa como herdeiro ideológico do capitão da reserva15. O Centrão mira construir Tarcísio como uma alternativa mesmo que a contragosto do carioca16, o PL não descartou a longínqua possibilidade de montar um esquisito quebra-cabeça com a esposa do ex-presidente, Michelle Bolsonaro17. O NOVO, em frangalhos, está articulando Guedes e Campos Neto para o Senado, evitando qualquer associação direta com Jair Bolsonaro18. O ex-presidente está claramente desgastado. A parte complicada é que ele gostou muito do seu culto à personalidade.


Ele ainda tem alguns fiéis escudeiros, claro, como Ricardo Salles, Nikolas Ferreira e Marcel van Hattem - todos pateticamente irrelevantes no grande esquema das coisas, mas catalisadores potentes da parte mais populista e vocal do campo. As manifestações na Paulista, a tentativa chocha e obviamente irrealizável de golpe de estado e as psicodelias radicais que carecem de bom-senso normalmente associadas ao bolsonarismo tendem a vir desse miolo e suas extensões na mídia e nas redes sociais. Neste grupo, estão incluídos também os filhos do ex-presidente, Flávio, Carlos e Eduardo. Flávio é senador e um pouco mais politicamente habilidoso, mas severamente impopular, enquanto Carlos e Eduardo são pouco competentes e consideravelmente mais problemáticos. Além disso, o triunvirato do clã também é leal ao seu patriarca e acredita na sua “legitimidade” como líder da direita, por isso insistem na prerrogativa quase imperial de Jair de assumir esta posição19. A ideia da centralidade da família Bolsonaro para esse grupo tem tamanha primazia que os três filhos, apesar de não terem um pingo de chance, são os mais desejados pela ala mais radical do movimento para manter a soberania de Jair20 21e saciar suas birras.


Por muito tempo, sua eloquência funcionou e manteve as massas perto do presidente. Mas a popularidade decadente do ex-mandatário e as pesquisas mais recentes indicam que esse controle está sendo perdido e diluído22. Não estamos mais em plena Lava-Jato. Apostar em “sem mim o PT volta” não vai mais funcionar. Bolsonaro pode ou largar o osso e, como sempre fez em sua carreira, se submeter aos cães maiores, ou derreter na própria teimosia.


Coloco essas críticas ao bolsonarismo, mas não como se o lulismo estivesse em uma posição muito melhor.


Indiscutivelmente, a esquerda é muito mais organizada, e o Partido dos Trabalhadores é uma máquina política complexa e robusta (ou pelo menos era). Dominado por sua ala mais maquiavélica, o PT viu as vitórias de Collor e do PSDB e precisou se reinventar para competir. Daí surgiu o tal “Lulinha paz e amor”, em uma chocante virada de chave em comparação com a narrativa de líder sindical irreverente e duro na queda que seu partido tentava projetar poucos anos antes23. O pragmatismo da sigla tornou-se o segredo do seu sucesso, elegendo Lula pela primeira vez em 2002 após a publicação da “Carta ao Povo Brasileiro”, na qual a agremiação indicava que não tentaria nenhum tipo de projeto econômico potencialmente suicida24, acalmando o mercado financeiro e as forças políticas mais tradicionais. Já eleito, o governo Lula buscou trazer para dentro o Centrão e encaixar na folha de pagamento suas demandas nada triviais por meio de esquemas nada honrosos,  o que poderia ter gerado uma crise política avassaladora se não fosse a bonança econômica sustentada pelo crescimento econômico advindo do boom das commodities e o arranjo improvisado de um estado de bem-estar social, catapultando a popularidade do presidente e do PT e possibilitando sua sobrevivência ao escândalo do mensalão - mas não sem baixas. O principal mediador do Planalto com o parlamento, o Ministro da Casa Civil, José Dirceu, foi cassado ao se jogar sob os trilhos antes que o escândalo demolisse o restante do partido25.


A corrente dominante do partido perdeu moral no pós-choque de 200526, e Lula, que antes era mais um rosto bonito para as propagandas do que qualquer outra coisa, passou a ter mais influência interna. Afinal, com a popularidade do presidente na casa dos 80%27 e com o vexame do partido de serem pegos em seus esquemas de corrupção mirabolantes, os petistas dependiam da boa-vontade de Lula para seguir qualquer rumo que fosse. De todos os rumos possíveis, o escolhido não foi um terceiro mandato, vetado pelo chefe do Executivo, nem um nome tradicional e seguro para sucedê-lo. A herdeira que o presidente escolheu foi Dilma Rousseff.


Se Lula tivesse apoiado uma pedra para concorrer à presidência ela teria ganhado, então, a vitória de Dilma não foi uma grande surpresa. O real inesperado foi a incapacidade da mandatária de manter qualquer resquício de um gabinete ministerial funcional27. Dessa vez, o governo petista não conseguiu resistir a uma cadeia de péssimas decisões políticas e econômicas28 29, afundando sua presidência em um lamaçal tão profundo que as Jornadas de Junho e a Lava-Jato foram apenas a cereja no bolo que terminou de sufocar o cadavérico governo na areia movediça. Em agosto de 2016, a presidente sofreu um impeachment e conseguiu, em 2018, a façanha inédita de ser a única presidente da história que perdeu uma disputa ao Senado30 - um sinal claro do sentimento popular em relação à sua figura. Como sempre, a estratégia da compra de apoio, somada à liderança incapaz de Dilma, fracassou miseravelmente em face das eventuais dificuldades do executivo.


O governo Dilma e a obliteração do PT, entre o impeachment e 2018, traumatizaram o partido significativamente, mas a direção a ser tomada não ficou clara. Eles chegaram em segundo lugar com Fernando Haddad, pelo mero fato de que o partido ainda é a sigla mais influente do país, e ganharam em 2022 por um motivo similar, não por conta de uma ressurgência fenomenal. De fato, o fundamental problema da sigla de depender demais de Lula e insistir em erros estratégicos é recorrente.


Vamos, por exemplo, considerar as eleições de 2018. Você deve-se lembrar que o atual presidente estava, à época, em um retiro de longa duração em Curitiba. Condenado por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, o líder sindical foi detido em agosto31, apesar da insistência de sua defesa e do desespero de sua militância. Isso, claro, não impediu uma triunfante Gleisi Hoffmann e sua caravana de militantes e políticos de registrar a candidatura de Lula em agosto daquele ano, sorrindo e tirando fotos ao lado de Haddad e Manuela D’Ávila32.


Dizer que isso foi uma ideia ruim é um eufemismo. Como emplacar a narrativa de que o maior símbolo de um partido na maior crise de sua história é a escolha certa depois de ser condenado por corrupção, justo na época em que o brasileiro estava enfurecido com o sórdido arranjo institucional do país? Os anos tentando salvar Dilma de um iminente colapso fragmentaram a legenda, ao mesmo tempo que escolher um nome para promover já não era prioridade. O que sobrou, depois da óbvia recusa do TSE de validar a candidatura de Lula33, foi lançar Fernando Haddad - especialista em perder cargos majoritários - para disputar a presidência34.


O PT não sabe o que fazer sem Lula. Na verdade, eles não sabem o que fazer quando estão acuados. O partido é notório por sua intransigência enquanto oposição e a mão de ferro com o qual conduz negociações e suprime dissidências internas. Os petistas pediram o impeachment de todos os presidentes de fora da sigla 50 vezes35 e foram quase sempre derrotados em suas pautas por conta dessa teimosia. Por outro lado, o cenário desenhado nas eleições deste ano foi um balde de água fria nos diretórios municipais, que viram sua influência diminuir e imposições do partido sobre a federação partidária fracassarem miseravelmente36. O candidato em Cuiabá, que obteve algum sucesso ao tentar imitar um discurso conservador, perdeu37. Em Natal, outro baque38. Em Porto Alegre, cidade destruída por uma gestão negligente do MDB após as enchentes, o PT achou razoável lançar Maria do Rosário, desprezada pela população gaúcha, e foi trucidado em uma derrota acachapante39. 


A conclusão é que não, o topo do comando petista não faz ideia do que está fazendo. A presidente do partido, Hoffmann, parece muito ocupada em uma campanha cesarista de difamação contra seus rivais e em bajular Lula na esperança de alcançar um objetivo “x” qualquer. Não existe um mundo onde é racional assinar manifestos defendendo ditaduras40, enquanto o Itamaraty se contorce para não pegar mal, travar as negociações da Casa Civil com o parlamento41 e criticar cada singular decisão econômica do governo como se isso não fosse munir a oposição e aprofundar ainda mais a insegurança fiscal sendo cozinhada pela superaquecida economia brasileira42. De fato, as ações da própria base petista arriscam escalar para uma crise sem precedentes, já que a sanidade econômica é certa de ruir quase imediatamente após qualquer crise política - o que não seria nada inesperado a esse ponto. O “grupo nordestino”, como também é conhecida a facção da presidente do partido43, coleciona loucuras que vão muito além de chamar o arcabouço fiscal de “pacto com o diabo”44. O ministro da Fazenda pode não ser um exímio segurador de pontas, mas com aliados como esse, quem precisa de oposição?


Nessa situação, como fica o presidente? Bem, não fica. Sejamos francos, Lula não é o indivíduo mais brilhante que já pisou no cenário político nacional. Pelo contrário, ele ativamente evitava se envolver com discussões mais complicadas, deixando-as para seus subordinados. Enquanto figura pública, sua assessoria precisou ser refinada de tal modo que toda vez que ele está sem ela, algo dá errado. Chamar Pelotas de “exportadora de veados”45 não foi a primeira vez que Lula deu alguma declaração lobotomizada. Em 1994, disse admirar Hitler e Khomeini por sua “força de vontade e dedicação”46, por exemplo. Esconder seu passado, não somente essas declarações, mas sua desconcertante relação com torturadores do DOPS47, não é uma tarefa fácil. A reinvenção coberta de hipocrisias não é perfeita e até hoje o presidente comete gafes mirabolantes aqui e acolá. Mas dessa vez, não basta somente a palavra de Lula para eleger um herdeiro. Se quiserem continuar com a cabeça acima da água, os petistas precisam pensar em um nome que não seja um idoso antiquado de quase 80 anos, sobrevivente de um câncer e de 50 anos de tabagismo. Por mais que seja o desejo do partido, forjar seu próprio João XII é insustentável.


É de se esperar, no entanto, que ninguém esteja disposto a largar o maior asset que a esquerda já teve por comodismo48. Lula disse somente que “poderá ser candidato para combater os fascistas”49, mas evita falar sobre o assunto e muito menos engatilhar uma negociação por outro concorrente. Para ser justo, eles estão ficando sem opções. Boulos? O PT e o PSOL não necessariamente estão se dando bem depois da derrota do candidato em São Paulo50. Os tradicionais caciques petistas, como os já citados Haddad e Hoffman, não são nomes unânimes e têm performances eleitorais historicamente pífias51. Dirceu está de volta ao jogo, mas tem poucas chances de sair. Alckmin, que já foi chamado de nazista pelo PT anteriormente52, e Simone Tebet podem ser possibilidades para uma frente ampla com a esquerda e o centro, mas essa estratégia não é muito provável53. João Campos e sua ascensão promissora em Pernambuco não importam tanto, já que ele não terá idade para concorrer. Claro, há muito chão pela frente, mas esse tópico não é algo a ser postergado. A tendência não é que Lula fique mais forte para o eleitorado, pelo contrário. A estratégia de “sem Lula, o bolsonarismo volta” não vai colar de novo.


Longas descrições feitas, acho que meu ponto ficou um pouco mais claro: a disputa por 2026 já está a todo o vapor, apesar de estarmos a dois anos do pleito. Para o bem ou para o mal (mais para o mal), temos essa curiosa tendência na política nacional de priorizar a próxima eleição a todo o momento.


De um lado do octógono, temos um candidato que quer sair para presidente de um jeito ou de outro, dispensando o aval de qualquer “aliado” e apostando em algo que com certeza vai balcanizar seu campo político. Do outro, um incumbente calejado e com uma imagem antiga, cada vez mais sujeito a erros de cálculo horripilantes, sendo sustentado por uma base tão frágil quanto um castelo de cartas enquanto a posição de seu gabinete se enfraquece a cada dia. A dificuldade de ambos em encontrar um sucessor está desenhando uma corrida imprevisível nos próximos anos.


Dessa vez, a disputa parece ser ainda mais apertada. Lula e Bolsonaro ambos apresentam performances questionáveis nas pesquisas mais recentes, um sinal de que apoiar-se no bom e velho paternalismo, típico da política desse país não é mais o suficiente. O que os grandes partidos estão fazendo ao insistir nesses candidatos é, basicamente, dar murro em ponta de faca.


“É tão ruim um candidato concorrer e concorrer várias vezes?” Depende. Vou poupar os fãs do Ciro e deixar a pergunta em aberto.


Autor: Guilherme Neto

Revisão: André Rhinow, Artur Santilli e Giovana Rodrigues

Imagem de Capa: Folha de S. Paulo



Referências:

  1. SCHROEDER, L. “Estou vivo e o candidato sou eu“, diz Bolsonaro sobre eleições de 2026. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/politica/estou-vivo-e-o-candidato-sou-eu-diz-bolsonaro-sobre-eleicoes-de-2026/>. Acesso em: 17 nov. 2024. 

  2. PODER360. Bolsonaro diz que será candidato até "morte política ser para valer”. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/poder-eleicoes/bolsonaro-diz-que-sera-candidato-ate-morte-politica-ser-para-valer/>. Acesso em: 17 nov. 2024. 

  3. Por maioria de votos, TSE declara Bolsonaro inelegível por 8 anos. Disponível em: <https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2023/Junho/por-maioria-de-votos-tse-declara-bolsonaro-inelegivel-por-8-anos>. Acesso em: 17 nov. 2024. 

  4. Candidatos apoiados por Bolsonaro têm baixo desempenho nas pesquisas - Jornal O Globo. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2020/candidatos-apoiados-por-bolsonaro-tem-baixo-desempenho-nas-pesquisas-24724340>. Acesso em: 17 nov. 2024. 

  5. Após vitória, Nunes agradece ao “líder maior” Tarcísio, diz que vai governar para todos e que o equilíbrio venceu o extremismo | Eleições 2024 em São Paulo | G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/eleicoes/2024/noticia/2024/10/27/apos-vitoria-nunes-agradece-ao-lider-maior-tarcisio-diz-que-vai-governar-para-todos-e-que-o-equilibrio-venceu-o-extremismo.ghtml>. Acesso em: 17 nov. 2024. 

  6. Hoje com discurso liberal, Bolsonaro votou com PT em pautas econômicas - 17/11/2017 - Poder. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/11/1936197-hoje-com-discurso-liberal-bolsonaro-votou-com-pt-em-pautas-economicas.shtml>. Acesso em: 17 nov. 2024. 

  7. A frase em que Bolsonaro sugeriu fuzilar FHC por p... | VEJA. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/coluna/clarissa-oliveira/a-frase-em-que-bolsonaro-sugeriu-fuzilar-fhc-por-privatizar-estatais>. Acesso em: 17 nov. 2024. 

  8. Bolsonaro elogia ex-ministro de governos petistas e diz que gostaria de tê-lo em segundo mandato – Jovem Pan. Disponível em: <https://jovempan.com.br/noticias/politica/bolsonaro-elogia-ex-ministro-de-governos-petistas-e-diz-que-gostaria-de-te-lo-em-segundo-mandato.html>. Acesso em: 17 nov. 2024. 

  9. O ‘anticomunista’ Bolsonaro já fez campanha e votou no ‘comunista’ Lula | José Casado. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/coluna/jose-casado/o-anticomunista-bolsonaro-ja-fez-campanha-e-votou-no-comunista-lula/>. Acesso em: 17 nov. 2024. 

  10. FOCO, C. EM. Treze frases de Bolsonaro de natureza sexual e machista. Disponível em: <https://congressoemfoco.uol.com.br/amp/area/governo/treze-frases-de-bolsonaro-de-natureza-sexual-e-machista/>. Acesso em: 17 nov. 2024. 

  11. Bolsonaro pediu para Playboy não publicar menção a aborto, diz ex-editor. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/10/10/jair-bolsonaro-aborto-revista-playboy.htm>. Acesso em: 17 nov. 2024. 

  12. Após facada, Jair Bolsonaro vai a 30%; Haddad tem 8%, diz BTG Pactual. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/eleicoes/apos-facada-jair-bolsonaro-vai-a-30-haddad-tem-8-diz-btg-pactual/>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  13. Doria se diz “amargamente arrependido” pelo “bolsodoria” nas eleições 2018. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/02/02/doria-se-diz-amargamente-arrependido-pelo-bolsodoria-nas-eleicoes-2018.htm>. Acesso em: 17 nov. 2024. 

  14. União Brasil confirma Caiado como pré-candidato à presidência. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/partidos-politicos/uniao-brasil-confirma-caiado-como-pre-candidato-a-presidencia-em-2026/>. Acesso em: 17 nov. 2024. 

  15. Pablo Marçal negocia com o União Brasil e pode disputar candidatura à Presidência com Caiado - Estadão. Disponível em: <https://www.estadao.com.br/politica/pablo-marcal-negocia-com-o-uniao-brasil-e-pode-disputar-candidatura-a-presidencia-com-caiado/>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  16. Entrevista: “Tarcísio é o melhor para 2026, mas está deixando a desejar na articulação”, avalia Ciro Nogueira. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2024/10/30/entrevista-tarcisio-e-o-melhor-para-2026-mas-esta-deixando-a-desejar-na-articulacao-avalia-ciro-nogueira.ghtml>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

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  18. Paulo Guedes e Roberto Campos: as articulações do Partido Novo para 2026. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/blogs/ancelmo-gois/post/2024/11/paulo-guedes-e-roberto-campos-as-articulacoes-do-partido-novo-para-2026.ghtml>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

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  27. G1 - Popularidade de Lula bate recorde e chega a 87%, diz Ibope - notícias em Política. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2010/12/popularidade-de-lula-bate-recorde-e-chega-87-diz-ibope.html>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  28. Legado de Dilma, recessão econômica inédita nasceu da obsessão pelo crescimento. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/legado-de-dilma-recessao-economica-inedita-nasceu-da-obsessao-pelo-crescimento-990k0cgflhul2sboklo2h5tug/>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  29. A queda do apoio a Dilma | Metrópoles. Disponível em: <https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/a-queda-do-apoio-a-dilma>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  30. A queda do apoio a Dilma | Metrópoles. Disponível em: <https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/a-queda-do-apoio-a-dilma>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  31. Lula pode concorrer à Presidência mesmo preso em Curitiba? Entenda. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/2018/08/04/lula-pode-concorrer-a-presidencia-mesmo-preso-em-curitiba-entenda.ghtml>. Acesso em: 18 nov. 2024. 

  32. PT registra candidatura de Lula a presidente com ato em frente ao TSE. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/2018/08/15/pt-registra-candidatura-de-lula-a-presidente-com-ato-em-frente-ao-tse.ghtml>. Acesso em: 18 nov. 2024. 

  33. TSE decide por 6 votos a 1 rejeitar a candidatura de Lula a presidente | Eleições 2018 | G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/2018/08/31/maioria-dos-ministros-do-tse-vota-pela-rejeicao-da-candidatura-de-lula.ghtml>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  34. TSE decide por 6 votos a 1 rejeitar a candidatura de Lula a presidente | Eleições 2018 | G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/2018/08/31/maioria-dos-ministros-do-tse-vota-pela-rejeicao-da-candidatura-de-lula.ghtml>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  35. Ana Amélia lembra que PT apresentou 50 pedidos de impeachment entre 1990 e 2002. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/03/29/ana-amelia-lembra-que-pt-apresentou-50-pedidos-de-impeachment-entre-1990-e-2002>. Acesso em: 18 nov. 2024. 

  36. Federações enfrentam dissidências e excluem partidos menores de chapas majoritárias. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2024/08/federacoes-enfrentam-dissidencias-e-excluem-partidos-menores-de-chapas-majoritarias.shtml>. Acesso em: 18 nov. 2024. 

  37. “Fizemos uma campanha de respeito”, diz Lúdio Cabral após derrota no 2o turno em Cuiabá | Mato Grosso | G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2024/10/27/fizemos-uma-campanha-de-respeito-diz-ludio-cabral-apos-derrota-no-2o-turno-em-cuiaba.ghtml>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  38. Paulinho Freire (União) vence Natália Bonavides (PT) na | Política. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2024/10/27/paulinho-freire-uniao-vence-natalia-bonavides-pt-na-disputa-pela-prefeitura-de-natal-rn>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  39. Alta rejeição, ausência de Lula e dificuldade para obter apoio: por que Maria do Rosário perdeu a eleição em Porto Alegre. Disponível em: <https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/eleicoes/noticia/2024/10/alta-rejeicao-ausencia-de-lula-e-dificuldade-para-obter-apoio-por-que-maria-do-rosario-perdeu-a-eleicao-em-porto-alegre-cm2s5j9g00113013ub8ncxkuu.html>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  40. PT reconhece Maduro: por que partido apoia líder da Venezuela enquanto parte da esquerda critica - BBC News Brasil. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/articles/cxr23qw0075o>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  41. Atrito entre Gleisi e Padilha tem como pano de fundo disputa por comando do PT e dança das cadeiras na Esplanada | Blog da Andréia Sadi | G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/blog/andreia-sadi/post/2024/10/30/atrito-entre-gleisi-e-padilha-tem-como-pano-de-fundo-disputa-por-comando-do-pt-e-danca-das-cadeiras-na-esplanada.ghtml>. Acesso em: 18 nov. 2024. 

  42. Under Lula, Brazil is walking on the financial wild side. Disponível em: <https://www.economist.com/the-americas/2024/07/18/under-lula-brazil-is-walking-on-the-financial-wild-side>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  43. Defesa de candidatura nordestina à presidência do PT é novo capítulo de guerra entre Gleisi e Haddad. O Globo, 18 out. 2024. Disponível em: https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2024/10/18/defesa-de-candidatura-nordestina-a-presidencia-do-pt-e-novo-capitulo-de-guerra-entre-gleisi-e-haddad.ghtml. Acesso em: 02 dez. 2024.

  44. Arcabouço fiscal lembra pacto com diabo, diz petista - 05/04/2023 - Mercado - Folha. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/04/arcabouco-fiscal-de-haddad-lembra-tentativa-de-pacto-com-diabo-diz-lindbergh-do-pt.shtml>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  45. Ex-prefeito de Pelotas que ouviu piada homofóbica de Lula em 2000 assume cargo em empresa do governo federal. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2023/06/ex-prefeito-de-pelotas-fernando-marroni-assume-cargo-em-estatal.ghtml>. Acesso em: 18 nov. 2024. 

  46. Folha de S.Paulo - Lula declarou admirar Hitler e Khomeini - 21/4/1994. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/4/21/brasil/10.html>. Acesso em: 18 nov. 2024. 

  47. 5 revelações curiosas sobre a prisão de Lula na ditadura | Exame. Disponível em: <https://exame.com/brasil/5-revelacoes-curiosas-sobre-a-prisao-de-lula-na-ditadura/>. Acesso em: 18 nov. 2024. 

  48. Esquerda está cada vez mais refém da candidatura de Lula em 2026. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/politica/esquerda-esta-cada-vez-mais-refem-da-candidatura-de-lula-em-2026/>. Acesso em: 18 nov. 2024. 

  49. Ibid

  50. Votação de Boulos coloca em xeque parceria PT-PSOL em SP. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2024/10/30/votacao-boulos-alianca-pt-psol-sp.htm>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  51. De Lula e Bolsonaro a Tarcísio, Haddad e Lira: pesquisa revela o quanto brasileiros “gostam” ou “rejeitam” nomes da política. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/blogs/pulso/post/2024/07/de-lula-e-bolsonaro-a-tarcisio-haddad-e-lira-pesquisa-revela-o-quanto-brasileiros-gostam-ou-rejeitam-nomes-da-politica.ghtml>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  52. Randolfe associou Alckmin a nazismo em 2012, mas hoje diz que errou - 19/04/2022 - Painel - Folha. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2022/04/randolfe-associou-alckmin-a-nazismo-em-2012-mas-hoje-diz-que-errou.shtml>. Acesso em: 19 nov. 2024. 

  53. MDB já se articula para compor a chapa presidencia... | VEJA. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/brasil/mdb-ja-se-articula-para-compor-a-chapa-presidencial-com-lula-em-2026>. Acesso em: 19 nov. 2024. 




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