Há quanto tempo eu e você não nos vemos?
Faz apenas algumas horas desde que nos despedimos com risadas alegres? Ou alguns dias desde que nos cruzamos apressados em algum corredor? Passaram-se algumas semanas desde que trocamos mensagens em um dos apps do nosso celular? Talvez até alguns anos desde que conseguimos sentar em uma mesa para colocar o papo em dia pela última vez?
Me pego pensando nisso dezenas de vezes ao encostar a cabeça no travesseiro de noite.
Muito tempo. Muito tempo que te conheço, muito tempo que não te conheço mais. Muito tempo que te tenho em minha vida e muito tempo que te perdi.
Balela!
Não acredito nesse negócio de muito tempo. Não é do meu feitio medir tempo em muito ou em pouco. Sou mais simpático à ideia de enxergar o tempo em bom ou em ruim, em o que realmente foi, é ou será. Em ver o que deixou de ser ou que poderia ter sido. Muito melhor, não?
Não sei quem é você lendo esse texto, que, vamos combinar, para você pode não ser muito mais do que palavras soltas de um, entre vários, aluno da Fundação. Pouca coisa, quase perdida em meio ao que realmente pode importar para você, nesse tempo maluco que tem a vida. Não nego que talvez nem eu mesmo pensasse em ler isso, mas acho que, se parasse um pouco para prestar atenção, ia perceber que o tempo, o muito e o pouco, o apressado e o lento, o passado e o vindouro, interessa a todos nós.
Em minha opinião, o tempo não pode ser muito, pois jamais serão muitas as horas que passo ao lado das pessoas que importam para mim. Elas sim, são muitas, várias, dezenas. Amigos de infância ou colegas de trabalho. São essas pessoas que medem o meu tempo entre o que ele é ou não é.
Amo passar tempo. Odeio quando ele passa por mim. Perdido, sem sentido, quase banal.
Tempo perdido é tempo que não volta. Dormir? Pasmem, nunca gostei. 8 horas em um mesmo lugar, quieto, imóvel? Horroroso, não é pra mim. Adicionar à lista outra infinidade de atividades que não me agradam por simplesmente não entrarem nos meus critérios de tempo que é, não tempo que não é. Confuso, igual o tempo. Infelizmente, claro, do sono não dá pra escapar. Igual da vida. E lá se vão sete ou oito horas. E lá se vão 7 ou 8 anos.
Mas há coisas que gosto. Coisas que, mesmo parecendo, não me fazem perder tempo, mas sim ganhá-lo. Torná-lo o que é. Gosto das aulas que tenho, por exemplo. Não apenas pelo conteúdo que aprendo (na verdade, bem pouco pelo conteúdo que aprendo) mas também por partilhar coisas e momentos com as pessoas. Conversas, fofocas, risadas, trocas. Tudo no seu tempo. Almoços, intervalos, rápidas conversas de corredor ou longas reflexões nas mesas do refeitório. E poxa, a semana acabou.
Olha o mês, o ano, a vida passando e chegando. Ficando, mudando, indo. O que foi feito?
Não tento medir o tempo em muito ou em pouco. Talvez em corrido, em perdido ou ganho. Em velhices e em juventudes. Em papos de corredor e em reflexões de mesas.
Estou envelhecendo, e esse tempo eu não pego de volta. Tenho medo, confesso. Medo dele ir passando, passando, passando e um dia decidir que sim, é muito tempo. Muito tempo de vida, muito tempo perdido. E lá se vai eu.
O tempo são os nomes que nos atravessam. O tempo são os sorrisos e as lágrimas. O tempo são amigos que fazemos de repente, que podem ou não estar lendo esse texto.
Em frente a tudo isso, como podemos dizer quanto tempo é muito tempo? Não dá. Não tem como dizer que tal pessoa é muita pessoa. Para mim, se o tempo nada mais é do que essas essas pessoas e as experiências que elas nos proporcionam, então não há muito tempo. Há e ponto. Para alguns há muito bem, para outros, muito mal. Eu odeio o tempo, mas amo o que o tempo me traz.
Quanto tempo de leitura até aqui? Se você ainda está comigo talvez nem tenha percebido, o prazer desse texto atemporal permitiu que você se desligasse do relógio, o senhor do tempo. Qual tempo? Relógio não é gente, nem feito de gente. Relógio é coisa, feita por gente pra controlar gente. Relógio diz quanto tempo é muito tempo. Pra mim o relógio mente.
Se nas reflexões de mesa, nas conversas de corredor ou nos desabafos com uma taça de vinho gastamos uma, duas, cinco horas, tanto faz, não ligo. Só eu sei o que foi, o motivo dessas horas passadas e o que elas me trouxeram. Só eu sei o que as pessoas foram e são para mim. Pouco tempo até podiam ser dez, quinze ou vinte. Horas, dias, anos.
Voto sempre por manter pessoas para sempre comigo. O sempre eu não sei quanto é, nem se é muito ou pouco. Apenas que ele existirá e, se for ao lado de quem amo, pode ser lindo. Quero isso. Quero gente pra ter tempo. Quero tempo para ter gente. Nem muito nem pouco, apenas quero.
Caso não tenha percebido, essa tentativa falha de traduzir em palavras o que sinto é uma declaração de amor às pessoas que amo. Aos que fazem meu tempo. Aos que aprecio por reflexões de horas a fio ou em rápidos papos de corredor.
Por isso para você talvez tudo o que eu falei seja tosco, incoerente. Uma tentativa falha de causar impacto melodramático no gvniano médio. Tudo isso é uma perda de tempo.
Levei 1 dia e algumas horas para finalizar esse texto. Em meio a provas e aulas encontrei o tempo para escrevê-lo. Nem muito, nem pouco. Apenas tempo. Com essa última frase finalizo meus devaneios temporais e deixo dedicatória aos que fazem destes os tempos da minha vida.
Às pessoas que estão comigo há mais tempo.
Às que partilharam lembranças divertidas comigo há longínquos tempos.
À amiga que foi o primeiro sorriso em tempos de mudança.
Aos amigos que me aguentaram por mais tempo do que deveriam.
À amiga que foi tão boa em tempos tão turbulentos.
Ao amigo que foi um porto seguro necessário por certo tempo.
À amiga que quando está comigo eu mal vejo o passar do tempo.
Aos que brilhantemente ocuparam espaço na minha vida em novos tempos.
Aos que me fazem rir em meio a tempos caóticos.
Às pessoas que aguentam as barras comigo nesses últimos tempos.
Ao amigo que me mostra que uma amizade não depende de lugar ou tempo.
Às pessoas que doam tempo para quebrar a cabeça comigo.
Às pessoas que me tiram boas risadas todo o tempo.
Aos amigos que representam novos tempos para mim.
À minha família, que, claro, me ensinou sobre o tempo e o que fazemos com ele.
A tantos outros que, correndo o risco de soar repetitivo e de esgotar as possibilidades do uso da palavra tempo, não cito. Espero que entendam essa mensagem e que me encontrem em meio ao seu próprio tempo.
Não há o que trocar pelo tempo com vocês, que não é nem muito nem pouco. Apenas é.
Texto: Arthur Quinello
Revisão: Artur Santilli, Laura Freitas e Sofia Almeida Imagem de capa: Frog and Toad Are Friends, Arnold Lobel- 1970
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