Dando continuidade aos nossos textos do Outubro Rosa, hoje temos um relato pessoal de um caso de nódulo na mama da nossa editora-chefe Victória Rieser.
Aos dezesseis anos fui diagnosticada com um tumor do tamanho de um limão na mama direita. Sim, dezesseis. E sim, do tamanho de um limão. Descobri o nódulo – que, a princípio, era pequeno – porque meu namorado notou uma rigidez no local e me aconselhou a procurar um médico. Sendo sincera, de início eu não me preocupei nem um pouco, eu era muito nova e por lógica não deveria ser nada.
Na primeira consulta, o ginecologista disse que era um nódulo comum que poderia facilmente ser retirado com uma punção. Porém, como venho de uma família com histórico de câncer de mama dos dois lados parentescos – avós, além de tias e outra tia-avó – minha mãe preferiu que procurássemos uma mastologista. No ultrassom – encaminhado pelo segundo médico– o nódulo já estava maior do que o observado anteriormente e de acordo com ela:
– “Deve ser um fibroadenoma[1], comum na sua idade principalmente para quem toma pílula anticoncepcional.”
Na época, eu realmente não dei importância à segunda parte da frase, sendo a grande questão o fato e não a causa do tumor. Hoje, acho que cabe o questionamento quanto à “geração rato de laboratório do anticoncepcional”. Se frequentemente jovens que tomam anticoncepcional encontram-se nesse quadro, por que eu, com o histórico que tinha, usava o cujo contraceptivo?
Eu queria usar, o médico receitou e no dia seguinte comecei a tomar. Não me perguntaram sobre uma possível hereditariedade de câncer ou trombose, nunca fiz nenhum exame específico e tampouco me informaram dos riscos. Sobre o mesmo caminho, creio que seguem boa parte das meninas que se medicam.
De volta à história: após o ultrassom, precisei fazer minha primeira biópsia – o que realmente não é nada agradável. Além do incômodo do exame em si, o ambiente hospitalar – sobretudo referente ao câncer de mama –, por mais que tente aparentar o oposto, não é confortável. Enfim, feito o exame, chegam os resultados.
Por agora não me recordo os termos médicos exatos, mas além do nódulo já ter triplicado de tamanho, o resultado da biópsia deu um estágio acima do esperado. Não era o pior dos casos, mas era pior do que o previsto e eu precisava tirá-lo rápido. Lembro como se fosse ontem a tensão em casa durante esse processo todo, o teatro dos meus pais sobre “estar tudo tranquilo” era nítido – e eu não os culpo –, ainda que estivesse visivelmente abalada.
A operação – que era pra ser uma quadrantectomia[2]– acabou removendo metade do seio, porque o tumor já tinha ocupado o espaço. No procedimento, que durou cerca de seis horas, eu retire o nódulo e reconstruí a mama. Nesse aspecto, minha vontade era copiar a Angelina Jolie e retirar os dois seios por completo para não ter mais nenhum tipo de complicação. Acontece que Angelina só fez isso porque é Angelina, Victória é Victória e não pode porque vai contra a ética médica – na realidade, são poucos os casos em que a mastectomia preventiva é aceita.
Dentre todos os privilégios que tenho, poder reconstruir a mama é um dos que têm mais peso pra mim, que é a realidade oposta da minha avó e de grande parte das mulheres brasileiras. Em geral, a recuperação foi tranquila - embora demorada - e, felizmente, não precisei fazer quimioterapia ou outros tratamentos mais agressivos depois. Um ano após esse cenário, fiz a mamografia necessária para o acompanhamento e, para minha surpresa, o convênio não aprovou os exames, alegando que eu era muito nova, embora soubesse da particularidade do caso.
Na mamografia, descobri um novo nódulo bem menor do que o primeiro, que atualmente está em acompanhamento junto a outros nódulos que apareceram em anos conseguintes. Eu não tomo mais anticoncepcional, mas tenho uma tendência glandular que me fará conviver com esses contratempos durante a vida. Sendo assim, os nódulos vão aparecendo e a gente vai lidando da maneira como pode.
Por fim, cabe o desabafo do desafio que foi escrever esse relato. As memórias vieram, mas as palavras não conseguiram descrever o que realmente senti nessa fase da minha vida. Neste Outubro Rosa, fica meu adendo para que todas as mulheres: cuidem-se. O autoexame é de extrema importância para prevenção.
[1] tumor benigno
[2] retirada de um quarto da mama
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