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SEJAMOS PROMETEU, O LADRÃO DO FOGO

O texto de hoje foi enviado para a Gazeta Vargas por nossa membra Ingrid Bonfim, enquanto ela prestava nosso Processo Seletivo, e é especialmente interessante pois, dentre todos os enviados para a Gazeta, foi o único que contestou publicações já feitas por nossa entidade, e apresentou novos paradigmas e pontos de vista. Então, a Gazeta te convida a ler o último texto do nosso Processo Seletivo 2020.1, "Sejamos Prometeu, o Ladrão do Fogo". Vem ver!


Para quem é pobre, a linha de chegada é sempre mais longe e o trajeto tem sempre mais obstáculos, talvez por isso tantos sonhos vindos da periferia se percam no meio do caminho. Dada a largada nessa corrida da vida, o preço de superar alguns desses obstáculos e ocupar um espaço elitista seria ver os “nossos” – pessoas de baixa renda com quem partilhamos dificuldades semelhantes – cada vez mais distantes? E nós, cada vez mais perdidos sobre o lugar ao qual pertencemos? Pertencimento. Esse sentimento, ou a falta dele, foi assunto de um dos textos publicados pela Gazeta Vargas, em 25 de setembro de 2019. Em “Entre o Paraíso e o Inferno”, o autor Carlos Roberto reflete sobre a experiência de ser bolsista na Fundação e o não-lugar no qual nos encontramos. Acerca desse texto, proponho uma perspectiva que converge com a do autor, mas acrescento o seguinte aspecto: cada vez que atravessarmos a ponte periferia-centro, devemos salvar alguém do Inferno. De fato, essa colocação passa longe de ser literal. Deixe-me explicar: ainda que confusos sobre em qual mundo nos encaixamos, o acesso à informação é a melhor arma da qual dispomos. Assim, fazer com que o conhecimento alcance os lugares da onde viemos é incitar que mais pessoas oriundas dessa realidade prezem por ocupar o ambiente acadêmico e, por consequência, salvem-se do Inferno abordado por Carlos Roberto – onde há violência e falta de oportunidades. Contudo, depois dos, aproximadamente, quatro anos vivendo no antro “gvniano”, o diploma não garantirá que sobrepujemos a antessala do Paraíso, mas proporcionará que algumas portas sejam abertas. Cabe ao alunato bolsista, assim, além de fazer um exercício constante de convencimento, afirmando que aquele lugar também é seu, utilizar das ferramentas que tem, para que essas portas se abram para mais pessoas como nós. Pois, não! O preço por estar em uma faculdade de ponta não pode ser ver os nossos mais distantes. A partir disso, mergulho em minha última metáfora. Sejamos Prometeu! Pessoas que, assim como o titã grego, abalaram o status quo, entregando o fogo aos homens. Não é difícil deduzir que na FGV temos o acesso ao fogo, em outras palavras, ao conhecimento; e que este precisa chegar nas mãos dos meros mortais, daqueles que estão fora do Olimpo. Quem sabe assim, quando dividirmos o espaço com mais pessoas diversas, o sentimento de pertencer passe a fazer mais sentido – pertencer ao lugar de onde viemos bem como à Fundação.

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