Por Fernanda Haddad
Muito se discute a respeito do feminismo, que mobiliza gradativamente as pessoas para entender mais sobre nossa luta. Luta, esta, da qual resultam extensos debates que enriquecem a potencial desconstrução de visões machistas. Um dos locais no qual os feminismo ocorrem é na sala de aula. Nela, a discussão se materializa: ganha teoria e exemplos cotidianos. O machismo está enraizado no dia-a-dia da mulher: em diversos momentos nos deparamos com atitudes que nos desvalorizam a partir de argumentos biológicos, simplesmente por pertencermos ao sexo feminino. E são justamente essas experiências que fazem o feminismo sair de uma esfera abstrata e partir para uma esfera prática, que é o ponto de partida para a mudança.
O ambiente da FGV é um claro e concreto exemplo onde acontecem diariamente diversas situações machistas, que deixam a mulher em uma posição extremamente desconfortável. Um exemplo disso, é relatado por uma aluna da EDESP do primeiro ciclo.
Laura Kirsztajn expôs um desconforto que a acompanhava constantemente na sua participação em sala de aula – cabe ressaltar que a participação é importantíssima para composição da nota final na Escola de Direito. Em suas palavras: “meninas são frequentemente silenciadas, interrompidas, e há uma visível diferença nas formas de se posicionar durante os debates. Se elas falam, muitas vezes têm suas ideias tomadas por colegas que reproduzem o mesmo argumento e levam os créditos”. A questão demonstra-se extremamente relevante à medida que meninas não deveriam ter suas ideias diminuídas e descreditadas. É inconcebível que certo posicionamento seja minimizado por simplesmente por uma mulher o ter dito.
Não faz sentido que atitudes machistas ainda estejam presentes em um ambiente no qual muito se conversa sobre feminismo. Surgem debates que parecem – ao que tudo indica, são apenas aparências – conquistar alunos interessados no tema, disponíveis para entender a problemática que se insere fortemente no dia-a-dia das mulheres e disponíveis para se desconstruir. Parecem estar se desconstruindo. Muitas dessas atitudes não surgem com intenções racionais por trás, mas surgem por mera construção social que em todo o crescimento incutiu a inferioridade da mulher.
A respeito do que Laura sente sobre isso: “Quando não existe um controle por meio da mediação do professor, acaba ganhando quem ergue mais a voz e isso, inevitavelmente, atrapalha as meninas. Aquelas que se sobrepõem a esse comportamento são as que naturalmente são mais desinibidas; quando se tem um mínimo de timidez, tal tipo de situação é um caos. (…) você tem que tirar forças de não sei onde para conseguir se impor diante de vozes mais graves e, culturalmente falando, respeitadas.”
Pelo seu relato, é evidente que se sobrepõem em sala de aula aqueles que são socialmente mais valorizados, justamente por eles terem mais crédito, sem necessariamente possuir mérito. A criação cultural naturaliza essa atitude, o que a torna imperceptível para muitos. Meninas devem ter igual espaço de fala que os meninos, devendo cada um respeitar-se e contribuir para o enriquecimento da aula sem importar efeitos negativos para a parcela das meninas.
É essencial expor o assunto, torná-lo público, para que todos reflitam sobre uma situação que, para alguns, pode passar despercebidamente, mas que para outros pode se tornar um caos. Discutir o feminismo é preciso, falar sobre a posição das mulheres é muito importante para que a mudança tenha vez. A mudança começa pela reflexão e pela percepção de que tais situações acontecem recorrentemente e nos lugares mais comuns. É por isso que relatos como o de Laura necessários e fundamentais. Tomar conhecimento é o primeiro passo, e então colocar a teoria feminista em prática.
Ao fim, as palavras de Laura concluem bem: “dizem que os meninos foram criados para serem corajosos e as meninas para serem precavidas, e isso cabe em todos os sentidos, especialmente no que foi aqui debatido. Nós tememos mais expor as nossas opiniões, nos desvalidamos o tempo todo.”
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