Tenho o receio (talvez infundado, talvez sem pé nem cabeça, talvez totalmente coerente, talvez totalmente justificado) de que eu sou uma cozinheira muito pior do que me fiz acreditar nos últimos quase dois anos que passei morando sozinha em São Paulo.
Olha, tentar eu tento muito. Diria até que sou exímia em fazer arroz — acho o meu arroz uma delícia, melhor inclusive do que a maior parte dos outros que já comi por aí. E sei os básicos: macarrão, ovo frito, carne moída, pão na chapa, pipoca, brigadeiro, miojo, lasanha de microondas. Os essenciais à vida do ser humano independente, bem-nutrido, saudável etc.
Infelizmente, porém, voltar à casa dos meus pais para as férias balançou (e muito!) a convicção (pouca) que tenho (tinha?) sobre meus dotes culinários. Já na primeira tarde teve frango grelhado, arroz e feijão (feijão eu já não sei fazer, nem tenho panela de pressão — e não faço questão de ter, mãe, caso você esteja lendo isso), suco de laranja, quiabo e salada. Na minha casa teria sido frango e arroz. Ponto final. Talvez uma água em temperatura ambiente (esqueço de encher minhas garrafinhas para colocar na geladeira) para acompanhar o prato.
Morar sozinha é muito difícil! grito aos quatro cantos para quem quiser ouvir. Mal sei calcular quantas cebolas tenho que comprar para que metade não estrague antes que eu as coma. É foda cozinhar para um, viu? É sempre muito ou pouco. E as coisas estragam muito rápido. Abaixo o amadurecimento das frutas! Abaixo o mofo que cresce no pão!
Percebo, levemente desconcertada, que meu talento na cozinha se resume ao básico do básico e ao eventual bolo de fubá ou chocolate. Que ódio.
Todavia admito também que nunca gostei muito de cozinhar. Sempre achei o processo todo meio lento e meio chato e ter a maior trabalheira para no fim a comida ficar mais ou menos me causa irritação profunda. Talvez a culinária só não seja para mim — sou feliz com minhas habilidades de macarrão, ovo frito, carne moída, pão na chapa, pipoca, brigadeiro, miojo, lasanha de microondas. Contento-me com meus limites. O importante é saber o suficiente para ter o que jantar.
Autoria: Anna Cecília Serrano
Revisão: Enrico Recco e Luiza Parisi
Imagem de capa: Foto por Luiz Henrique Mendes
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