O conflito em Gaza completou um ano nesta última semana. O ataque surpresa do grupo militante palestino Hamas a Israel, no dia 7 de Outubro de 2023, deixou mais de 1200 israelenses mortos e contou com 250 civis e militares sequestrados pelo grupo logo nas primeiras horas. Em resposta, Israel declarou guerra ao Hamas, iniciando uma campanha massiva de bombardeios aéreos sobre Gaza. A ofensiva contra o grupo armado evoluiu para uma operação ainda maior de ataques aéreos e por terra em todo o enclave. O isolamento da região com o passar dos dias tornou a situação ainda mais crítica, com a recorrência de apagões e a falta de água, comida e medicamentos. Os bombardeios israelenses atingiram hospitais, escolas e campos de refugiados, deixando mais de 41 mil pessoas mortas e 96 mil feridas durante um ano de guerra. O aniversário da ofensiva do Hamas explicita a escalada da violência em um conflito que não parece ter fim e a ineficiência de iniciativas que priorizem a ajuda humanitária na região.
Em um ano, as esferas de conflito só se expandiram. Ainda em Outubro de 2023, o Hezbollah, grupo armado libanês e financiado pelo Irã, declarou suporte às pessoas de Gaza e iniciou um ataque aéreo com o uso de foguetes predominantemente em instalações militares israelenses. Israel respondeu os ataques de forma ainda mais contundente, o que deixou milhares de desabrigados na região de fronteira com o Líbano. Depois de uma série de ataques israelenses a um hospital em Gaza e de respostas violentas de aliados do Hamas no Mar Vermelho, uma tentativa de cessar-fogo temporário foi mobilizada no final de novembro do mesmo ano. A ajuda humanitária conseguiu chegar na região e houve troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos. No entanto, o gabinete humanitário da ONU, o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA), informou que, apesar da trégua, as forças israelitas mataram a tiro dois palestinos em Gaza no dia 29 de novembro e bombardearam pessoas no dia 30 de novembro, o que deu fim a tentativa de cessar-fogo estabelecida.
O ano de 2024 começou com ataques aéreos americanos e britânicos no Iêmen em resposta às atividades do grupo Hutis, aliados do Hamas que controlam partes do Iêmen, no Mar Vermelho no ano anterior. Em Maio, Israel invadiu a região de Rafah, que representava um refúgio para mais de 1 milhão de palestinos. A ofensiva em Rafah fechou a fronteira com o Egito e dificultou a entrada de ajuda humanitária e a saída daqueles que fugiam do conflito. O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) ordenou a Israel que suspendesse “imediatamente” o seu ataque militar a Rafah, o que não aconteceu. Mais ataques a cidades palestinas ocorreram em julho de 2024, com destaque para as mortes em Al-Mawasi, uma região supostamente designada como “zona segura”. As negociações entre as partes são mediadas pelos Estados Unidos, Catar e Egito, mas a proposta enfrenta impasses há meses. Entre suas demandas, o Hamas pede pela reconstrução do território. Já Israel diz que só irá acabar com a guerra quando o Hamas for destruído.
Nas últimas semanas, o conflito se expandiu de forma drástica. Depois do dia 31 de Julho, quando o Hamas declarou que seu líder político, Ismali Haniyeh, foi morto em uma viagem à capital iraniana, o Hezbollah intensificou os bombardeios ao norte de Israel. Semanas depois, em setembro, o conflito se expandiu no Líbano. Pagers e walkie-talkies, equipamentos utilizados por membros do Hezbollah, segundo informações do exército de Israel, explodiram em 17 e 18 do mesmo mês, causando ferimentos a mais de 3 mil pessoas, incluindo civis. Na semana seguinte, ataques israelenses no sul do Líbano mataram ao menos 500 pessoas. No dia 27 de setembro, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, foi assassinado em um ataque israelense em Beirute. Já somam mais de 1 milhão de pessoas deslocadas e 2 mil mortes no Líbano ao longo dos ataques. A morte de Nasrallah escalou as tensões já existentes entre Israel e o Irã, principal apoiador do Hezbollah, tornando o risco de um conflito regional no Oriente Médio cada vez maior.
No episódio mais recente da escalada, no dia 1 de Outubro, o Irã lançou centenas de mísseis supersônicos em direção ao território israelense. As lideranças iranianas declararam que esses ataques não representam nem uma pequena parte da força bélica do país, e Israel prometeu uma resposta aos ataques iranianos. Nas palavras de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, o Irã cometeu um “grande erro” e vai “pagar por isso". A Guarda Revolucionária do Irã disse que a resposta de Teerã será "mais esmagadora e arrasadora” se Israel reagir. Na comunidade internacional, os EUA reforçaram o apoio a Israel ao ordenar que suas forças na região ajudem na defesa do país derrubando mísseis iranianos. O premiê britânico, Keir Starmer, disse que o Reino Unido está do lado de Israel e reconheceu o “direito de autodefesa” do país. A França e o Japão também condenaram os ataques do Irã, e pediram que todas as partes evitem escalar tensões. Nas últimas notícias, Israel subiu o tom de ataque ao Irã, declarando que “Será um ataque letal, preciso e surpreendente. E eles não entenderão nem o que aconteceu ou como”. A situação do Líbano está cada vez mais crítica, com 25% do território sob ordens de retirada de civis por parte das forças de Israel.
O conflito que perdura há mais de um ano é um dos mais mortais e destrutivos da atualidade. Para além das pessoas gravemente feridas e das mortes, a guerra danificou ou destruiu mais de 92% das estradas principais de Gaza, 84% das instalações de saúde e 70% dos sistemas de água e saneamento da região, segundo informações das Nações Unidas. A expansão do conflito para outros países do Oriente Médio e a crise humanitária exacerbada na região demonstra que os esforços diplomáticos para a erradicação do conflito são falhos e inconsistentes, o que afasta cada vez mais da realidade as possibilidades de resolução.
Autoria: Raquel Lantin
Revisão: André Rhinow
Imagem de capa: Suhaib Salem/TPX Images of the Day via Reuters
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