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UM PAÍS CONSTRUÍDO SOBRE MENTIRAS

Como a mídia foi, e ainda é, usada como instrumento de manipulação política e palco para disputas de poder no Brasil.


Em meados de outubro de 1921, o jornalista Mário Correia, do Correio da Manhã, foi chamado para comparecer à residência do senador Irineu Machado, que afirmava possuir documentos de grande valor político, e que vinham a ser de grande interesse público. Chegando lá, Correia recebeu o que o senador disse se tratarem de duas cartas de autoria de Artur Bernardes, então candidato à presidência da república, destinadas a um aliado político seu. Nelas, Bernardes criticava Nilo Peçanha e o marechal Hermes da Fonseca, referindo-se a este como um “sargentão sem compostura” e “canalha”, o qual necessitava de uma “reprimenda para entrar na disciplina”. O jornalista, como bom profissional, percebeu o ouro que tinha em suas mãos e não pensou duas vezes antes de publicar o preciosíssimo furo jornalístico que encontrava.


O efeito das publicações foi imediato. Os debates acerca do assunto tomaram a câmara dos deputados, o senado, as assembleias legislativas, os jornais, as mesas de bar, e onde mais se discutisse política. No dia seguinte à publicação da primeira carta, o Clube Militar, sob liderança de Hermes, reuniu-se para tratar do assunto e acabou redigindo uma moção de repúdio ao seu autor. Nesse documento, afirmaram os militares que Bernardes havia insultado o exército como um todo e, por isso, o candidato teriade optar entre duas medidas: dissolvê-lo, caso fosse eleito presidente, ou desistir de sua candidatura. As cartas atiçaram fogo às relações dos militares com o governo federal, o que viria a desencadear graves efeitos na política do país; no entanto, diante de toda essa repercussão, espantosamente algo parece ter passado despercebido pelos militares, bem como pelo Jornal que publicou os documentos: ninguém se deu o trabalho de averiguar a veracidade das cartas.


Bernardes, por muitos meses, declararia veementemente não as ter escrito. De fato, meses depois do ocorrido, os autores da falsificação confessaram seu delito, afirmando que tinham tido o intuito de prejudicar o futuro presidente. Todavia, a raiva não é um sentimento que se reduz com fatos, e o mal-estar entre ele e os militares já havia se estabelecido. Como não escolheu entre nenhuma das opções que lhe foram ofertadas – dissolver o exército ou renunciar –, o presidente teve sua vida política transformada em um verdadeiro inferno. Hermes telegrafaria ao Recife para que as tropas se abstivessem de abafar a revolta que lá estouraria em 1922; seu filho, Euclides da Fonseca, seria um dos principais organizadores da revolta que ficaria conhecida como a dos 18 do Forte; por fim, e mais importante, uma série de jovens oficiais do exército, sentindo as dores das ofensas e do desprezo emanado pelo governo federal, arranjariam o que viria a ser a Revolução de 1924, que destruiria a cidade São Paulo.


Os presidentes daquele tempo não se preocupavam com o que era publicado na imprensa, pois não necessitavam da opinião pública para se elegerem. A fraude eleitoral e o voto de cabresto garantiam-na sempre, sem demandar campanhas e marketing político propriamente dito. No entanto, cada vez mais os jornais se modernizavam, ampliando sua qualidade, sua quantidade e o poder de influenciar a opinião pública. Bernardes sentiu na pele esses efeitos, e agiu à sua maneira para fazer-lhes frente: governou por três anos com o país em estado de sítio e impôs a censura.


Ao invés de calar os jornais, contudo, o efeito de suas medidas viria a ser exatamente o oposto daquilo que planejava: estes declararam guerra ao seu governo e não lhe garantiram mais um dia de sossego. Assis Chateaubriand, o Chatô, que na época possuía dois jornais em São Paulo e um no Rio de Janeiro, além da revista Cruzeiro, iniciou o que ele mesmo chamava de sua “campanha” contra a figura do presidente. Investiu diariamente contra ele, com uma enxurrada de notícias, artigos de opinião e reportagens negativas ao seu respeito. Diferentemente de um episódio isolado de fake news, contudo, como o das cartas falsas, que já havia custado tanto a ser desmentido, não havia qualquer possibilidade do presidente defender-se de seus ataques – tão logo defendia-se de um, mais uma tempestade já lhe sufocava em seguida. Chatô chegou ao ponto de, após os revoltosos de 1924 fugirem de São Paulo para o Mato Grosso e lá formarem a Coluna Prestes, enviar repórteres a fim de colher histórias e publicá-las em seus diários, louvando os combatentes e transformando-os em heróis nacionais. Não obstante, teve a ousadia de promover campanhas de arrecadação para financiar a Coluna, convocando os leitores a doar generosas quantias aos combatentes em sua luta contra o governo.


Bernardes, através da força, conseguiu governar até o fim de seu mandato; no entanto, a revolta da imprensa não morreria com ele. Seu sucessor, Washington Luís, veio a assumir o governo representando uma continuidade da política de desprezo à mídia e do desinteresse à opinião pública, tornando-se herdeiro legítimo do ódio acumulado por seu antecessor. Tanto ele como Bernardes não perdiam por esperar, mas enquanto eles não dedicassem o mínimo esforço para promover a própria imagem, seriam substituídos por alguém que o fizesse.


Chateaubriand, que sempre procurava ser o primeiro a publicar notícias sobre os bastidores do governo, cavando através de sua rede de contatos os melhores furos jornalísticos e as melhores fofocas, teve a oportunidade de achar um insólito amigo para lhe garantir notícias direto da fonte. Enquanto era ministro da Fazenda do presidente Washington Luís, Getúlio Vargas passou a se encontrar diariamente com ele na redação de seu O Jornal, para que pudesse garantir-lhe as melhores boas-novas do governo, tão logo ficasse sabendo delas. Não obstante, devido à sua influência como ministro da Fazenda sobre os bancos, o futuro presidente teve a astúcia de intermediar importantíssimos empréstimos para que o jornalista pudesse aumentar a cobertura de sua rede de jornais, fortalecendo aquela amizade que viria a mudar os rumos do país.


Chatô, que no início de sua amizade com Getúlio possuía somente 2 jornais, às vésperas da Revolução de 30 possuía 6, além da Cruzeiro – todos garantindo diariamente elogios à figura daquele que lhe garantia recursos para a expansão. Não por coincidência, no dia seguinte ao pleito de 1929, em que o gaúcho perdeu em favor de Júlio Prestes, seus jornais publicariam, em uníssono, o que marcaria o início de mais uma de suas campanhas: “Fraude!”


A manipulação das urnas e o voto de cabresto não eram nenhuma grande novidade no país a ponto de virarem manchete de jornal; o próprio Getúlio, quando era presidente da comissão legislativa eleitoral no Rio Grande do Sul, foi responsável por escandalosas falsificações nos números em favor dos líderes do seu partido. No entanto, isso não importava – Chatô pretendia transformá-lo no herói que iria salvar o país da corrupção, e seus jornais, ao longo dos meses que sucederam, seriam patrocinadores dos chamados à revolução.


Getúlio foi um dos primeiros políticos de relevância a entender a importância da sua imagem para o público, e compreender o papel da mídia em sustentá-lo. Enquanto quase todos os presidentes anteriores eram carrancudos, sérios e formais, ele, com seu jeito amigável, evitava ao máximo qualquer grosseria contra repórteres, bem como sempre lhes oferecia um largo sorriso, sua marca registrada, a qual todos os presidentes democráticos posteriores haveriam de imitar. Foi por essa sensibilidade à importância da mídia que, depois da revolução 1932, quando os meios de comunicação, em sua maioria, passaram a recusar a continuar com seu apoio, o presidente entendeu que teria de tomar medidas mais fortes que meros sorrisos e favores para tê-los ao seu lado. Até 1945, em maior ou menor grau, os jornais viveriam sob estrita censura, o que o possibilitou promover o culto intenso à sua figura – sempre aproveitando as evoluções tecnológicas que surgiam, como o rádio –, ao mesmo tempo que mandava cotidianamente dezenas de prisioneiros para os porões de sua polícia política.


A ditadura passou, foram convocadas novas eleições, mas a lição permaneceu: sem a mídia, ninguém governa. Aqueles que não compreendessem firmemente o valor desse paradigma sofreriam grandes desgastes.


Já nas eleições de 1945, o brigadeiro Eduardo Gomes teve a infeliz oportunidade de sofrer dessa desgraça. Hugo Borghi, presidente do PTB e um dos maiores apoiadores de Getúlio, ao presenciar um discurso dado pelo brigadeiro no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, falando para uma seleta plateia de gentlemans, ouviu-o dizer que, para se eleger presidente, não precisaria contar com os votos “desta malta de desocupados que andam por aí”, referindo-se aos getulistas genericamente. Borghi consultou um dicionário de língua portuguesa da época e constatou que “malta” era sinônimo de “reunião de gente de baixa condição”. Dada a descoberta, ele, que era dono de várias emissoras de rádio, passou a propagar a história de que o brigadeiro afirmara que não precisava do voto de “marmiteiros”, ou seja, dos trabalhadores, para se eleger.


Carlos Lacerda, que sabia o tamanho poder das palavras espalhadas pela grande mídia, procurou Gomes para convencê-lo a desmentir as alegações; o candidato, porém, não deu ouvidos às insistências do jornalista – “Mas Carlos, isso não tem nenhuma importância. O povo não vai acreditar nisso... Imagine!”. Semanas depois, o termo “marmiteiro” já havia se incorporado ao vocabulário nacional, e diversas manifestações de rua contra o udenista passaram a ser marcadas pelas figuras de operários e donas de casa batendo colheres em suas “marmitas” – e, o que é mais importante, declarando seu apoio a Dutra, o candidato da oposição.


O Brasil estava experimentando naquele período algo que o resto do mundo já havia feito há pelo menos algumas décadas. Enfim, compreenderam as nossas elites que a mídia é os olhos da sociedade e, como tais, chancela à população o que ela pode acreditar ou não. Noam Chomsky, um dos maiores autores sobre o tema nos Estados Unidos, escreveu sobre como, naquele país, já no início do século passado, as suas classes políticas já bem o sabiam e aproveitavam. Como exemplo, conta o autor como se deu a criação do Pânico Vermelho, terror criado pela grande mídia aos sovietes, o qual possibilitou às elites que erradicassem sindicatos, além de atentar contra a liberdade de expressão e de pensamento. Descreve ainda como, em 1916, a Comissão Creel do presidente Wilson ajudou a transformar a mentalidade dos americanos, que era pacifista, em uma histeria xenófoba e belicista para desejar entrar na primeira guerra, após a produção de notícias falsas como a de que os alemães “cortavam braços de bebês” e afins. Chomsky chega ao ponto de afirmar que a mídia representa para o Estado de Direito daquele país o que o “porrete” representava para os regimes fascistas, – o principal instrumento para o povo não sair da linha. Isto é, ela controla a população, ao garantir os limites do que vê e, portanto, as conclusões a que chega, de forma a sempre acreditar que o fez por conta própria.


O fato é, depois que se percebeu o valor da mídia no país, foi dada uma corrida do ouro para que se dominassem os seus veículos. Quando Getúlio retornou ao poder, em 1950, quase toda a grande imprensa do país estava dominada por personalidade de oposição, principalmente da UDN (como Carlos Lacerda), os quais golpeavam-no duramente em seus jornais e rádios, ora com acusações verdadeiras, ora com outras grotescamente falsas. Não havia outra saída para safar-se do problema, concluíram seus partidários, senão fabricar um jornal governista para fazer-lhes frente; dessa ideia, surgiu o Última Hora, jornal popular financiado através de empréstimos, parte privados, parte do Banco do Brasil.


Quando esses empréstimos públicos vieram à tona, no entanto, um alarde público estourou no país, por força da imprensa oposicionista, que acusou o presidente de estar comprando a opinião do povo com dinheiro público. Apesar do fato de que a Tribuna da Imprensa de Carlos Lacerda e outros jornais udenistas também, em algum momento, terem recebido dinheiro público para a sua produção, essas acusações acabaram rendendo a instauração da CPI do Última Hora (eles careciam do termo fake news na época) para averiguar os empréstimos e, forçosamente, incriminar o presidente.


Após a morte de Getúlio, a imprensa udenista abaixaria brevemente o tom de suas acusações; contudo, Juscelino Kubitschek, logo que assumiu o governo, percebeu o mesmo perigo que sofrera seu antecessor projetando-se em seu horizonte. Chateaubriand, que a essa altura já era dono de dezenas de jornais, as principais estações de televisão, 28 estações de rádio, as mais importantes revistas, agências de notícias, de propaganda e, nas palavras do embaixador britânico no país, Geoffrey Wallinger, era um homem ”respeitado, mas com o tipo de respeito engendrado pelo medo e não pela afeição”, discordava radicalmente das ideias do presidente. Enquanto JK fazia da construção de Brasília uma de suas maiores bandeiras, o jornalista, debochadamente, questionava a utilidade de sua construção, chamando-o de “faraó Kubitschek”; da mesma forma, enquanto o presidente acreditava que o país devia ser industrializado com capital nacional para não depender mais das importações estrangeiras, Chatô dizia ter orgulho de “ser produtor de algodão, café, milho, arroz e mamona” para o resto do mundo. Para evitar o atrito com o homem que dominava a mídia do país, e tornar viáveis as suas políticas, o presidente agiu como exímio negociante e deu uma saída de cavalheiro para o problema: nomeou-o embaixador do país em Londres, o que (embora desastroso à política externa) agradou sua vaidade e possibilitou a conquista de sua amizade e a simpatia.


Alguns anos mais tarde, a ditadura viria novamente, impondo novo período de censura e extinguindo essas dinâmicas de negociação e poder – bem como novamente passaria, abrindo espaço às regras do jogo de anteriormente. Como mudança, somente trocaram-se seus atores e veículos: ao invés de Chateaubriand, Roberto Marinho; ao invés do rádio, a televisão.


Talvez o evento mais marcante, pós-redemocratização, de interferência na mídia para fins políticos, seja o das eleições de 1989, a primeira direta, na qual chegaram ao segundo turno Fernando Collor e Lula. O debate entre esses dois candidatos, brevemente anterior ao pleito eleitoral, consagraria a vitória do primeiro. Transmitido pela Rede Globo, o direior Boni admitiria, anos mais tarde, como a Rede Globo deliberadamente assumiu o lado de Collor. Segundo ele, após ser procurada pela assessoria do ex-presidente, a emissora tratou de arrumar a aparência do candidato do PSDB, para parecer mais “amigável”, e, na edição, mostrar apenas suas melhores falas, enquanto faziam exatamente o contrário com seu oponente. “Então nós conseguimos tirar a gravata do Collor, botar um pouco de suor com uma ‘glicerinazinha’ e colocamos as pastas todas que estavam ali com supostas denúncias contra o Lula – mas as pastas estavam inteiramente vazias ou com papéis em branco”, admitiu Boni. “Todo aquele debate foi [produzido] – não o conteúdo, o conteúdo era do Collor mesmo -, mas a parte formal nós é que fizemos”.


Em meio a esse complexo sistema de forças e poder, contudo, a evolução tecnológica nunca parou, e a internet surgiu como uma bomba para a dinâmica desses negócios obscuros. Inocentemente, ela se apresentou com a nobre pretensão de democratizar o acesso à informação e oferecer espaços livres para a divulgação de ideias. Com o amadurecimento das mídias sociais e de seus algoritmos, todavia, as informações passaram a ser oferecidas ao usuário pelo critério de o que ele deseja ver, ou o que lhe for mais apelativo, contrariando sua proposta inicial. Disso decorreu que as principais plataformas dessas novas mídias se tornassem bolhas ainda mais fortes do que as do mundo real, e aquilo que prometia ser um novo ambiente, mais democrático, acabou por ter o triste fim que toda democracia desmedida invariavelmente toma: a demagogia.

Nesse cenário, possibilitou-se a projeção política de diversos líderes outsiders, isto é, de fora do establishment político existente (ao menos em aparência), que prometiam falar a “verdade no meio a tanta mentira”. Jair Bolsonaro, surfando na onda da revolta contra a mídia tradicional, em específico à Rede Globo – provavelmente fruto das manifestações de junho de 2013 – conseguiu capitalizar em torno de sua personalidade a figura de alguém honesto, puro, no meio de tantas mentiras. No entanto, longe dessa narrativa, a realidade provou que ele não viria exatamente para falar a verdade (se é que ela existe), mas para contar o seu entendimento da realidade, que poderia ser errado ou não, mas que agradava ao público – e, consequentemente, rendia compartilhamentos. Em outras palavras, recorrendo-se à prosa de F. Pessoa, ele se destacou dentre os homens rudes não por possuir características positivas, das quais os demais careciam; destacou-se dentre os homens rudes por ser o mais rude de todos.


Para o desencanto de grande parte do seu eleitorado, no entanto, não demorou muito para se perceber que o presidente não viera somente para manifestar livremente sua opinião, seja ela errada, rude ou o que for. Da mesma forma que ocorreu neste país há décadas, ele investiu pesadamente na propagação artificial de suas ideias, com a única diferença de que, em vez de seu dinheiro cair nas mãos de jornalistas, alimentou uma rede intrincada de agentes políticos e operadores de softwares. Qualquer dúvida que ainda pudesse haver sobre esse comportamento esvaziou-se completamente com os novos passos do inquérito dos STF, o qual escancarou os rios subterrâneos de mentiras coordenados por ele, seus filhos, seus aliados e empresários – muitos dos quais ganharam poder justamente por prometerem dizer a “verdade”. Tamanha é a sujeira de suas negociatas, que alguém que tivesse o desprazer de presenciar uma reunião entre essas figuras, talvez tivesse sensação parecida com a que tiveram os bichos da narrativa de Orwell, que, ao assistir uma reunião entre homens e porcos, subitamente não conseguiam mais distinguir quem é homem, quem é porco.


A política de Bolsonaro é desonesta e também perversa, pois, não obstante, neste preciso momento de isolamento social em que vive o mundo inteiro, nunca tanto se necessitou da mídia para informar sobre o que está acontecendo na realidade. Isto é, não fossem as imagens que se vê nos televisores, ou as letras projetadas nos displays dos celulares, nada mais seria possível saber do mundo do que o que contam aos olhos as paredes dos quartos e os pequenos recortes de mundo que se avistam pelas janelas. A menos que se sofra pessoalmente os males da doença que se alastra mundialmente, não haveria como constatar a veracidade das milhares de mortes que se somam todos os dias, bem como os demais males que enfrentam todos os países. Ao convocar seus apoiadores a desacreditarem da mídia tradicional que, apesar de seus defeitos, ainda é infinitamente superior do que as mídias sociais para a difusão de informação, Bolsonaro fez com que uma camada da população realmente pareça não saber mais do mundo do que o que lê em seus grupos virtuais e vê entre as paredes de suas residências. Dessa forma, os grupos negacionistas da pandemia isolam-se entre si nas redes, propagando suas teorias desarrazoadas, e tornando-se cada vez mais cegos à realidade, e indiferentes ao sofrimento alheio. José Saramago, em seu Ensaio sobre a cegueira, afirma que os sentimentos nascem com os olhos, e quando o ser não vê o que acontece ao seu redor, este se torna indiferente; isto é, dizia ele que a cegueira dos olhos leva à cegueira dos sentimentos. Até onde se tem notícia, não houve qualquer outra explicação razoável para o desprezo pelas milhares de mortes de seres humanos que se tem manifestado diariamente.

Referências:

MARTINO, João Paulo. 1924, São Paulo em chamas. 2015. Editora Excalibur. São Paulo.

MORAIS, Fernando. Chatô, O Rei do Brasil. 2011. Companhia das Letras. São Paulo.

NETO, Lira. Getúlio 1930-1945. 2013. Companhia das Letras. São Paulo.

NETO, Lira. Getúlio 1945-1954. Companhia das Letras. São Paulo.

CHOMSKY, Noam. Mídia: propaganda política e manipulação. 2015. Martins Fontes.

BOJUNGA, Cláudio. JK, O Artista do Impossível. Editora Objetiva.


Foto da capa: Nexo Jornal

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