Os nossos membros da área Institucional da Gazeta Vargas, Carolina Zweig e Pedro Caixeta, foram como repórteres ao "Economia em Pauta" do DAGV. Saiba mais sobre o que foi discutido nesse evento!
No dia 25/09 ocorreu mais uma edição do Economia em Pauta, um evento da área Acadêmicos de Economia do DAGV, com objetivo de divulgar a pesquisa do corpo docente da EESP FGV. Desta vez, o palestrante foi Bruno Cara Giovannetti, que possui Ph.D. em Economia pela Columbia University (2011), Mestrado em Economia pela Universidade de São Paulo (2006) e graduação em Administração de Empresas pela FGV (2002). Entre 2012 e 2017, foi professor na Universidade de São Paulo e atualmente leciona na EESP FGV. Giovannetti apresentou seu trabalho em Finanças Comportamentais, principalmente seu paper “É possível viver de day-trading?”, com Fernando Chague (EESP-FGV) como co-autor.
Na estratégia de Day Trade, o investidor da Bolsa de Valores, muitas vezes considerado de perfil arrojado, compra ativos e os vende no mesmo dia, buscando assim ganhar dinheiro com a oscilação de preços em poucas horas ou até minutos. Como exemplo prático, se ele compra uma ação qualquer às 10:30 da manhã por R$ 5,00 e vende às 15:30 da tarde por R$ 6,00, essa foi uma operação de Day Trade. Uns dos motivos para esse mercado ter crescido tanto podem ser a enorme disponibilidade de informação e a baixa curadoria nos dias de hoje: indivíduos se iludem com vídeos no youtube, cursos online, marketing de empresas… Foram justamente dessas fontes que vieram as maiores críticas da pesquisa, que não teve repercussão negativa no meio acadêmico. A publicação é recente e teve um grande impacto na área - no mesmo dia em que divulgaram seus primeiros resultados, o número de day-traders praticamente parou de crescer.
Sua principal pergunta de investigação é “Por quê alguns investidores se comportam de maneira consistentemente irracional?”. A pergunta surge de um padrão identificado no mercado financeiro, em que os investidores individuais (que fazem day trade como pessoas físicas, sem o respaldo de uma instituição financeira e representam 20% do mercado) perdem mais dinheiro do que se estivessem tomando decisões de maneira aleatória - ou, na metáfora do professor, como um macaco. Isso foi observado por pesquisadores nos EUA, na Finlândia, em Taiwan e, por Giovannetti, no Brasil.
Giovannetti explicou brevemente as principais “pegadinhas” do mercado, que poderiam estar causando esse viés comportamental, ou seja, direcionando os investidores a tomarem decisões ruins. O primeiro era o Efeito Disposição (1): as pessoas não estão dispostas a, imediatamente, vender uma ação cujo preço começa a cair - dado que ações que estão caindo tendem a continuar caindo. O mesmo acontece na situação contrária: investidores vendem imediatamente uma ação se esta começa a subir, mesmo que se saiba no mercado que ela tende a continuar subindo, pela satisfação de conseguir vendê-la bem (mesmo se conseguisse vender melhor).
Outro fator é a Overconfidence (2), que se traduz em acreditar demais nas próprias escolhas de investimento e, portanto, não diversificar muito o portfólio. Há também o Viés Local (3), em que as pessoas investem mais no setor em que trabalham pois acham que o conhecem melhor - por exemplo, um profissional da Educação investe em instituições de ensino por conhecer esse mercado de perto. Novamente, isso dificulta a diversificação do portfólio, levando os investidores a se alavancarem em vez de se proteger, o que é muito arriscado.
A Ilusão do Preço Nominal (4) ocorre quando as pessoas interpretam a queda no preço das ações como “Promoções” ou “Descontos”, em vez de como uma desvalorização. Assim, elas compram ações achando que tiveram uma oportunidade de pagar menos por algo que vale muito quando, na verdade, é porque ela já não vale tanto assim. Muitos investidores se atraem por ações que lembram as loterias (5), que possuem alta volatilidade e baixo preço nominal. O problema é que com baixo preço nominal vem baixa liquidez e, portanto, poucas pessoas podem lucrar com elas.
Por último, há Ações Salientes (6): se uma empresa é mencionada na capa de um jornal ou tem uma boa propaganda, mais pessoas se interessam pela ação e seu preço se altera por um motivo pouco ou nada relacionado com o real valor da empresa.
Nem sempre é fácil perceber quando o preço está correto e quando sofre essas distorções. Como exemplo, referente ao caso (6), pode-se citar um episódio da empresa Taurus, que produz armas no Brasil. Suas ações costumavam valer pouco, por volta de 2R$ e subiram em setembro de 2018 para 12R$ com a expectativa da eleição de Jair Bolsonaro (e, portanto, a legalização do porte de armas). Isso ocorreu no período pré-eleições, mas em dezembro as ações voltam a cair e chegam a 4R$ no último dia útil do ano. Quando o mercado volta a abrir, em janeiro, as ações sobem até 8R$. Entre o dia 28/12 e o 11/01, não houve nenhuma novidade eleitoral (o novo presidente já havia sido eleito anteriormente): apenas ocorreu a posse da presidência. Mas isso parece ter tornado a ação da Taurus mais saliente, levando a mudanças irracionais em seu preço. Atualmente, as ações estão em torno de 4R$ novamente, indicando que o seu verdadeiro valor é algo nesse patamar (e não na casa dos 8 a 12R$).
Dadas essas pegadinhas, o investidor individual corre o risco de cair numa situação muito similar a de um cassino, onde seus ganhos dependem muito mais da sorte do que técnica. Nas análises de Giovannetti, diferentemente de qualquer outra profissão (e da ideia vendida por muitos cursos online), o tempo e a experiência não tiveram efeito positivo nas performances futuras. Na verdade, mesmo se fossem escolhas aleatórias, uma maior experiência também não aumentaria o retorno esperado desse investimento. Mas o que se identifica nos dados é que a persistência dos investidores causou cada vez mais perdas (97% dos que se mantiveram mais de um ano no day trade perderam dinheiro). Isso pode ser explicado pelas “pegadinhas” apresentadas acima e deve estar causando, além de uma grande ineficiência no mercado, um mal estar na sua saúde econômica.
Um importante problema é que estas pessoas não estão apenas se prejudicando: ao fazer transações irracionais do ponto de vista econômico, o mercado deixa de ser sempre eficiente. Nessas situações, nas quais a ineficiência impacta nos preços dos ativos, há oportunidades de arbitragem - há pessoas que podem arbitrar em cima disso, se aproveitar (lucrar) desses “erros” e, realizando sucessivas compras e vendas (alterando as relações de oferta e demanda), levar os preços de volta ao normal.
Temos então mais uma dificuldade no caminho dos que almejam enriquecer com daytrading: eles estão competindo com máquinas. Máquinas que estão inseridos na Bolsa, recebendo e processando informações antes que os indivíduos. São os robôs de trading, programados para vasculhar em todo o sistema financeiro oportunidades para continuamente comprar e vender ativos a preços diferentes (arbitrar), levando ao equilíbrio no preço e enriquecendo os seus donos.
Ainda assim, há limitações para arbitragem que impedem a resolução desse problema sozinhas. O professor, então, propõe perguntas: deveriam ser feitas políticas para combater isso? Se sim, como? Deve-se ensinar às pessoas físicas a investir bem? Induzi-las a agir racionalmente no mercado? Restringir suas operações financeiras? Por que isso é importante afinal? Essas são algumas das perguntas que a área de Finanças Comportamentais procuram responder.
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